Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Copenhaga

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Se há uma coisa que podemos tirar da surpreendentemente amena noite de hoje no Dragão é que ainda não estamos lá. Talvez ainda consigamos chegar lá, mas ainda não estamos. Lá. E onde é “lá”? Lá é um patamar de futebol consistente onde a bola se mexe mais que os jogadores e onde as posições são ocupadas em conveniência perante as dificuldades da partida, onde as rupturas acontecem sem pensar e as movimentações são fluidas e naturais. Como vimos, ainda não estamos lá. Estamos a caminho, mas com muitas curvas e poucas rectas. Vamos a notas:

(+) Danilo. Dos poucos que jogou a um nível superior esta noite, foi um dos principais responsáveis pelo combate no meio-campo e nunca se alheou dessa responsabilidade. Apesar do golo ter surgido depois de se deslocar da sua posição para lutar pelo ar contra um dinamarquês, pareceu-me que a culpa não lhe pode ser imputada porque não houve (mais uma vez) cobertura adequada para a sua ausência e Danilo tem recebido críticas que na minha opinião são injustas exactamente por isso: falta de cobertura dos colegas. Foi rijo, foi físico e foi o único a fazê-lo. Um dos únicos que consegue, é certo, mas fez o que pôde.

(+) O lance do golo. Recuperação de bola adiantada? Check. Bola para o avançado? Check. Tabelinha de costas para o médio que aparece em zona de remate? Check. Pum cá vai disto mete a mão ó guarda-redes se conseguires? Check. Would that it were so simple…

 

(-) A estratégia de acordo com a capacidade física. Não tenho dúvidas que Nuno sabe o que tem e o que não tem. Sabe que tem um meio-campo com enorme talento e potencial para trocar a bola como uma equipa grande. Sabe que os laterais podem ajudar a fornecer largura quando o jogo se tornar demasiado concentrado no miolo. Sabe que tem um avançado ágil e inteligente que se mexe bem entre as linhas e que busca a desmarcação com instintos Inzaghianos. Sabe também que o médio de cobertura é o único elemento com capacidade para lutar contra adversários fisicamente mais fortes e que sabem usar essa força. Isto para dizer que percebo a estratégia de abdicar da pressão alta e de permitir que o adversário troque a bola até os últimos 30/35 metros em frente à nossa baliza. Nuno assume que se tiver de lutar com hobbits contra orcs, os grandalhões vão levar tudo e não pagam a conta, por isso há essa atitude mais passiva de não tentar com todas as forças recuperar a bola porque os rapazes são pequenos e não tão combativos quanto isso. O jogo do FC Porto só funciona, em condições normais, quando a equipa tem a bola na sua posse. Aí sim, podemos rodá-la entre os homens do meio-campo com o apoio do(s) avançado(s), sejam dois na frente ou o tridente de hoje, acompanhados dos laterais. É o que consigo entender da forma passiva como o FC Porto 2016/2017 olha para o jogo: se não consegues bater-lhes no jogo deles, espera que falhem e aproveita. É conservador e até um pouco humilhante para um clube habituado a outros voos, mas é a forma como Nuno conseguiu contornar o problema de não ter elementos rijos no meio-campo. Mas a equipa não pode ser tão passiva. Não pode depender do adversário para pautar o seu jogo, tem de ser mais solidária na pressão, tem de ocupar mais espaços e fazê-lo de uma forma mais consistente e planeada. Não pode recuar depois de marcar um golo e jogar continuamente na espera das jogadas de ruptura para aparecer em 1×1 contra o guarda-redes contrário. Vendo o FC Porto assumir esta postura não me dá garantias de qualidade. Só me dá a imagem de um treinador que faz o que pode com o que tem. E o que tem, pelo menos por agora, é curto.

(-) Os laterais. Um jogo para esquecer de Layún e Telles, que não só tiveram de defender a dobrar pela pouca ajuda que Otávio e Corona lhes prestaram, mas especialmente porque a abertura de jogo pelos flancos fez com que estivessem em evidênvia pela incapacidade de construir jogo em condições e de cruzar a bola acertadamente para a área durante todo o jogo. Pareceu-me que tinham instruções para não bombear a bola à louco e assim cair na armadilha dos bisontes escandinavos mas a forma indecisa como Layún chegava perto da área e tentava o 1v1 quase sempre com maus resultados ou como Telles cruzava larguíssimo para o segundo poste ou directamente para as pernas dos defesas a cobrir o primeiro foram enervantes.

(-) A (natural) falta de rotinas. Há uma jogada na primeira parte que mostra bem do que falo. A bola está do lado direito, em Herrera (mais um belo jogo para emoldurar e enviar abaixo da sanita) ou Layún e aparece Corona e André Silva a fazerem diagonais…ao mesmo tempo, para o mesmo lado. Se André não tem culpa por ter o mexicano a fazer o mesmo nas suas costas, também Corona não pode ser culpado porque estava a deslocar-se para o “seu” sítio. Mas ainda falta muita comunicação entre sectores e ainda se nota mais quando essa comunicação não parece existir no mesmo sector. Tempo, precisa-se de tempo para os homens se entrosarem e é coisa que não há para gastar à toa.


Uma parte de mim acha que o empate se deveu ao facto de não ter tido tempo de tomar café no Bom Dia porque o trânsito estava impossível e cheguei mesmo em cima da hora ao estádio. Não é uma grande parte mas existe. Sim, sou tolinho, é o que temos.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Guimarães

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A vitória é incontestável e surgiu de forma relativamente tranquila e sem grandes preocupações. Mas…a verdade é que os golos foram obtidos num lance de bola parada, num remate com ressalto fortuito e num auto-golo, tudo depois de um golo anulado porque um mocho pousou numa lâmpada em Middle Earth e rezou sete Avé Verums o que fez com que Jorge Sousa visse algo que mais ninguém viu. Magia, só pode. Ainda assim houve futebol interessante a espaços e a noção que há ali muito talento para ser trabalhado, múltiplas opções tácticas e aparentemente pouca necessidade de extremos puros em grande parte dos jogos. Em suma: há material de qualidade, falta criar uma equipa. Notas aqui em baixo:

(+) Óliver. É uma diferença enorme ver Óliver a controlar a bola e a rodá-la para os colegas e ver Herrera a esforçar-se para conseguir progressão no terreno. Ocupando sensivelmente as mesmas zonas, o espanhol consegue transmitir uma confiança muito alta a um meio-campo que precisa da bola para poder impôr o seu jogo (mais sobre isto em baixo) e quando estiver em forma pode ser vital para o que a equipa consiga ou não fazer em campo. Raios, nem está em forma e já foi o que se viu! Bom primeiro jogo a titular.

(+) Danilo. Quando a equipa entrou em campo, organizada num 4-4-2 diferente, sem extremos mas com médios construtores e que se pretende que troquem a bola entre eles com facilidade, é natural que a equipa se incline para a frente e permita alguns espaços na rectaguarda. É aí que aparece Danilo, impondo a força física que os outros não têm e marcando a diferença por isso. Continua a precisar de uma melhor leitura dos espaços que tem de tapar mas é uma peça importante na equipa e sem substituto à altura para as mesmas características. Ou seja, se Danilo sair da equipa, o esquema pode ter de mudar para sobreviver.

(+) Marcano. Bom jogo do central, com um golo e várias boas intercepções, subindo sempre que necessário e ajudando a equipa nas bolas paradas. Parece confiante e apesar de já lhe conhecermos o histórico (a primeira falha raramente morre sozinha) está na equipa para ficar, o que é um bom sinal para o futuro próximo. Tens de esperar um bocadinho, Boly.

(+) Aquele contra-ataque do André Silva. Que prazer me deu ver aquilo. André Silva, a meio da segunda parte, recebe a bola depois de um ataque do Guimarães (canto? já não me lembro) e parte para o contra-ataque pelo lado esquerdo. Pela sua direita aproxima-se um autocarro de vestes negras em toda a velocidade em rota de colisão. KABOOM, vai o autocarro contra André, que sofre o impacto e logo se levanta para prosseguir a investida em rotação cada vez mais elevada, acabando por passar a bola para um colega que sofre falta para amarelo. É esta a garra que quero ver em todos os jogadores! Que se lixem as entradas a medo, André²! Para trás, Corona, quando não meteres o pé! Afasta-te Herrera quando perdes uma bola dividida! Olhem para o puto e lutem como ele. Nunca serão assobiados se o fizerem.

(-) Pressão alta ineficiente. Lembram-se dos tempos do Fonseca, em que o guarda-redes e os defesas ficavam sem saber muito bem o que fazer quando eram pressionados? Pois o Guimarães optou pela mesma estratégia, a troca de bola entre keeper, centrais e laterais como forma de construir pausadamente e apenas soltando-se da pressão dariam início ao ataque. Acontece que tínhamos lá dois homens a fazer pressão, Depoitre e André Silva, com André², Otávio e Óliver a espaços a subirem pouco mais para lá do meio-campo. Não chegou e nunca chegaria porque eram poucos para muitos. A pressão cansou-nos e não trouxe absolutamente nada de produtivo para o nosso jogo. Nuno, se é para fazer pressão então por favor, mete-os todos na frente! Ou em alternativa podes permitir que a outra equipa leve o jogo até à linha central e depois não passa nada. Ficar a meio é que não.

(-) Demora a entrar no jogo. A táctica era diferente, mais uma vez. Táctica não, talvez a disposição das peças em campo, porque não havia extremos mas os laterais estavam bem subidos, os dois médios mais recuados tinham funções diferentes e os outros dois na sua frente (Otávio e André², cognonizado como “capitão capitão” por um amigo na cadeira ao lado) iam vagueando pelo campo à procura de espaços que raramente apareciam. A tendência de bolas longas da parte dos centrais, aproveitando a presença de Depoitre, pareceu exagerada e pouco produtiva e a forma como se previria que o Guimarães reagisse às incursões pelo centro, fechando-se e criando espaços nas alas, nem sempre funcionou. Houve demasiada lentidão nos processos e um jogo demasiado previsível e com passes errados a rodos, com o resultado prático a ser a criação de lances perigosos apenas por bolas paradas e aéreas. Na segunda parte, depois do segundo golo, o futebol teria de ser diferente e acabou por ser, com um jogo bem mais rasteiro, inteligente e com boas trocas de bola. Mas não podemos perder tanto tempo até chegar a uma posição de conforto, dando ideia que navegamos uma maré que não somos nós a criar. Eu quero criar a maré, pronto.


A melhor resposta possível depois da derrota de Alvalade e numa altura em que já se sabiam os resultados dos “grandes”. O caminho faz-se caminhando, yadda yadda, vitórias em casa sempre e tal. Quarta-feira há mais do mesmo.

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Baías e Baronis – Sporting 2 vs 1 FC Porto

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Primeira coisa, logo para começar: o Sporting ganhou bem. Foi melhor na luta do meio-campo, aguentou com mais força durante mais tempo, aproveitou as nossas falhas defensivas e a permissividade do árbitro para impôr um jogo mais duro que nós e conseguiu ficar com a bola em momentos-chave da partida. Saímos de Alvalade sem pontos mas houve uma pequena luzinha que não se apagou ao contrário do que tinha acontecido noutros anos em que parecíamos ajoelhados a um místico poder verde sobre nós. Não temos ainda equipa, mas estamos a caminho. Estamos a caminho, meninos. Esperem pela volta. Vamos a notas:

(+) Voltamos a jogar em Alvalade para ganhar. Nos últimos três anos que visitamos a sanita mais conhecida do país, saímos com um ponto no total, com apenas um golo marcado (nesse mesmo jogo, há dois anos). As exibições foram incrivelmente frouxas, sem vontade e garra, sem força física e acima de tudo mental para bater o adversário em jogo de tripla. Desta vez não vi essa ausência de alma. Vi uma equipa que deu o que tinha e lutou para conseguir um resultado positivo apesar da ausência de opções válidas em sectores importantes e da ineficácia que é fruto da falta de rotinas. Vi um grupo de homens que não são de combate porque não têm físico para isso mas que tentaram o que puderam (e o que lhes deixaram) para vencer o jogo. E nestas circunstâncias não posso pedir mais que isso. Dizem-me que estamos demasiado confortáveis com a perspectiva da não-vitória este ano, mas pelo que tenho visto até agora, há algo de novo: vontade. E pela amostra dos últimos anos, é um passo em frente.

(+) Pressão alta no meio-campo, enquanto houve pernas. Mais uma vez afirmo o que já disse no passado recente: não temos andamento para estas coisas, pelo menos por agora. E notou-se que quando os homens do centro quebraram (André² e Herrera deram o litro que para eles anda aí pelos 674 mililitros) houve um recuo na equipa e a pressão, que até aí tinha funcionado, desmoronou-se e o Sporting tomou a dianteira para não mais a largar. Nuno mexeu (tarde, mas compreensível tendo em conta a pouca profundidade de opções centrais lutadoras no banco) mas não conseguiu elevar a equipa a melhores níveis e a pressão desapareceu. Boa tentativa, de qualquer forma.

(+) Danilo. Não foi gigante mas fez tudo o que conseguiu para evitar que o Sporting subisse em bloco pelo meio-campo fora e não fosse o facto de estar sempre bastante recuado no terreno e teríamos conseguido ser mais assertivos na recuperação da posse de bola. Ainda tentou algumas vezes sair com a bola controlada sem grande sucesso e por isso acabou por recuar e tentar jogar de trás para a frente deixando os colegas para o trabalho mais subido. Precisávamos de outro Danilo lá mais para a frente…mas não temos nem teremos.

(-) Falta de força no meio-campo. Podemos exigir trabalho, equilíbrio táctico e colocação de peças em campo por forma a taparem linhas de passe ou construção avançada do adversário. Podemos exigir que passem bem a bola, que sejam práticos e eficientes durante o jogo. Mas não podemos exigir que o André ganhe em corpo ao William ou o Otávio ao Marvin. Isso é quase impossível e por muito que tentem forçar o contacto vão perder 99 em cada 100 vezes. Como se resolve isso? Fácil: ter a bola e rodá-la entre os nossos e quando a perdermos, conseguir interceptá-la mais depressa que o adversário a conseguir passar. Fácil, não é? É, pois, mas precisamos de trabalhar exactamente esses vectores, porque uma equipa pequena e franzina tem de saber os terrenos que ocupa de uma forma mais inteligente do que uma que usa canastrões (com beneplácito arbitral, ainda por cima) para levar a sua avante, sob pena de perder todas as bolas e ficar de braços no ar a pedir falta, que aconteceu hoje por várias vezes sem grande motivo.

(-) Falhas defensivas nos golos. Ambos os golos foram absurdos e foram a prova evidente que ainda há trabalho a fazer, especialmente na mioleira da malta. O primeiro golo surge porque a equipa ficou estática no recuo para apanhar uma bola perdida, com os centrais a abanarem os braços a pedir uma mão que pode ou não ter acontecido…mas o que aconteceu de facto foi um alheamento do lance para tentar pedir uma falta, o que não faz sentido a este nível. Não podemos (e ao que parece cada vez menos) estar dependentes de árbitros, minha gente! Já o segundo golo foi pior, porque o corte de Felipe foi o contrário do que deveria ter feito, independentemente da bola ter ou não ido ao braço do adversário. Rapaz, ouve lá, uma bola daquelas corta-se para o ar. Pões a mona debaixo da trajectória da bola e quando ela embater no teu crânio tem de subir. É dinâmica básica de objectos, tens de jogar mais snooker em vez de andares a ver gajas na net e vais ver que percebes do que falo!

(-) Arbitragem, logicamente, em Alvalade. Não é nada de novo e não me parece que alguma vez o seja: o árbitro lixa-nos em Alvalade, de uma forma ou de outra. Falemos das mãos nas bolas ou bolas nas mãos. Não me parece evidente nenhum dos lances à vista desarmada e é só assim que consigo ver o jogo, porque essa imbecilidade de ver os lances com repetição e analisá-los a posteriori é uma bela duma trampa…mas também é verdade que o próprio Sporting anda a reclamar o video-árbitro desde que o Sansão foi ao corte e que me enfiem sete SCUDs no rabo se pelo menos um daqueles lances não seria considerado que a mão ou o braço desviou a trajectória da bola. Com mísseis anais ou não, passemos às trancadas. Sim, amigos, porque o Sporting as deu com mais força que um proverbial vizinho num apartamento com paredes finas. Bruno César, que tem a boca aberta mais vezes que uma pêga na Via Norte, tratou de andar a arrancar raízes de amarelo vestidas durante todo o jogo, Slimani e William adoraram os queixos dos nossos rapazes e se o Adrien pode andar a dar patadas à vontade, também devíamos ter uma palavra a dizer sobre isso. São estas as arbitragens que nos lixam e que dão cabo dos jogos, aquelas que deixam passar tudo para um lado e o outro raramente tem um free pass. Se um certo polaco que visitou Roma há uns dias tivesse estado hoje em Lisboa, garanto que o Sporting não teria acabado o jogo com onze. Nem dez. Talvez nove. Talvez.


Ninguém morre depois de perder em Alvalade. O campeonato ainda está no arranque e se a única derrota da época tiver acontecido à terceira jornada, não me faz comichão nenhuma. Há que recuperar a malta durante a pausa para a Selecção e voltar em grande na próxima ronda. Força, rapazes.

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Baías e Baronis – AS Roma 0 vs 3 FC Porto

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Fui Huno durante duas horas e festejei a vitória como se fosse uma conquista. Precisava desta sensação de triunfo, algo que não sentia com o meu clube há tempo demais e que me deixou a gritar para o céu como se tivesse acabado de vencer um troféu qualquer. A noite romana transformou-se num festival de Baco com menos vinho mas com níveis de celebração a condizer e apesar de não ter sido um jogo genial (ficaram a nu muitas das dificuldades que vamos sentir durante o ano contra adversários mais rijos e mais dinâmicos em campo), já se conseguiu ver muito bom trabalho táctico no meio-campo, vontade de vencer e esforço compensado com uma vitória que fica para a história. Vamos a notas:

(+) Felipe. É ESTE o Felipe que quero ver sempre e era este rapaz que me dá vontade de gostar dele e de esperar que cá deixe a sua marca. Mas das boas, ao contrário de outro central brasileiro que andou por aí a socar portas. Adiante. Excelente no jogo aéreo e muito prático nas bolas rasteiras, esteve impecável na primeira parte porque para lá da brilhante cabeçada que deu o golo foi um defesa quase intransponível. Com Marcano também bastante seguro ao seu lado, Felipe jogou simples, sem inventar e apenas uma ou duas entradas pelas costas (não duras, apenas desnecessárias) são motivos para preocupação e melhor discernimento. Para lá disso foi um imperador em Roma (habituem-se, vai haver várias destas ao longo do texto).

(+) Pressão no meio-campo. Olha que bela estrutura que se arranjou aqui, hã? Os nomes podem mudar mas a disposição das peças é muito útil para jogos grandes como este e o 4-2-3-1 mostrou que pode funcionar se houver entre-ajuda e capacidade de cobertura da zona central quando é necessária. Os três homens que jogaram mais subidos, somados a André Silva (hoje um pouco em baixo mas também pouco apoiado pelos alas), foram pivotais na forma como controlaram o centro do terreno e enervaram a Roma e os seus centuriões (eu avisei) não conseguiam soltar-se a não ser usando o físico, que fizeram mais vezes do que deviam e com intensidade absurda (ver abaixo). Tivéssemos nós mais um ou dois Danilos e faríamos lembrar um meio-campo de equipa francesa, com a mesma força mas com mais qualidade. Assim, fico-me pela qualidade…se for para manter.

(+) Os dois golos mexicanos. O primeiro foi uma pequena obra de arte de gestão de movimentação brusca, persistência e visão de baliza, com o timing perfeito para aproveitar a imbecilidade do Szczesny (onde ias tu, meu menino?) e ultrapassá-lo para depois rematar. Textbook perfection. Já o Jesus…só me fez lembrar Hulk no Calderón contra o Atlético em 2009 (lembro-me pela camisola, acreditem ou não) num jogo que acabou…acertaram, 0-3. Finta para um lado, finta para outro e balázio de pé esquerdo. É este o Corona que podemos ver até ao final da época? Oh, Júpiter queira.

(-) Aqueles minutos entre a segunda expulsão e o segundo golo. Ora foi a única coisa que me enervou hoje e que fez com que a minha filha aprendesse mais algumas palavras que jurarei a pés juntos que só pode ter aprendido no colégio. Um golo de vantagem e dois gajos a mais em campo…e a equipa tremeu. Tremeu porque ficou surpreendida e não se conseguiu adaptar rapidamente a essa nova e estranha realidade? Tremeu porque achou que estava tudo ganho e podia deixar o resto da legião romana atacar à vontade? Tremeu porque as pernas não responderam e optaram por descansar um pouquinho até aguentar o final da partida? Não sei, mas aborreci-me com a atitude até que tudo estabilizou com o golo de Layún e a equipa começou (finalmente!) a trocar a bola e a forçar o adversário a correr atrás dela. Algo que teria sido obrigatório fazer logo depois de Emerson ter ido para o balneário e algo que o próprio Nuno provavelmente tentou forçá-los a fazer, sem resultados práticos. Não caiu mal ao mundo…mas…e se a Roma tivesse empatado? Ia ser bonito, ia…

(-) Il sont fous, ces romains! Não consigo perceber a forma como De Rossi e Emerson entraram daquela forma durante um jogo tão importante. Se Emerson ainda é um rapaz jovem, já o italiano abusa deste tipo de jogo viril e raramente é punido, por isso apesar da surpresa que é ver dois adversários expulsos em casa no mesmo jogo (venham agora dizer que somos sempre os coitadinhos da Europa, que estão todos contra nós e yadda-yadda-outras-coisas-provincianas-que-eu-também-já-disse-no-passado-yadda-yadda…), nada há a dizer quanto à justiça das decisões. E o que me deixa parvo é a forma como fomos nós que os levamos a isso, pela forma como conseguimos enervar aquela malta tão arrogante e sabedora. Pois façam o favor de ir mostrar o vosso futebol de Adónises brutos às quintas-feiras que a correr bem não voltamos lá este ano.


Um dos grandes obstáculos da época foi ultrapassado se não com brilhantismo exibicional, ao menos com uma elevadíssima dose de pragmatismo e sentido de responsabilidade. Lucrámos com a estupidez da excessiva agressividade e aproveitámos muito bem para entrarmos na Champions. Não sei do que se queixam os turistas. Foi bem bom ir a Roma em Agosto!

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Estoril

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Ufa. Depois de um jogo intenso mas nem sempre bem jogado, o golo de André Silva deixou o Dragão libertar toda a tensão que acumulou durante minutos que pareciam tão curtos e comprimidos perante a aparente incapacidade de marcar um único golinho à equipa do Estoril. E conseguiu-o depois de um jogo em que a equipa lutou, mostrou vontade e espírito combativo e também mostrou que o plantel é curto para grandes aspirações. Bem, bem curto. Siga para as notas:

(+) André Silva. Vai haver momentos durante a época em que André Silva não vai conseguir acertar com um berlinde numa porta de igreja, mas este não é um deles. Apesar de vários lances falhados, uns por demérito próprio e outros pela estupenda exibição de Moreira, André mostra sempre trabalho. Desmarcações impecáveis, sentido de baliza e uma tremenda capacidade de ir ao choque e de mostrar o peito aos adversários para conseguir o que no fundo é o pão que o alimenta: os golos. Continua a ter de melhorar na decisão quando está sozinho (acontece vezes demais) mas está em grande forma e temos de aproveitar isso. E ele também.

(+) Mais garra, mais luta. Se compararmos os jogos desde o início da época com quase qualquer um que se disputou no ano passado, há algo que salta à vista mais do que um par de calções demasiado curtos num rabo grande: estamos a lutar mais. Os jogadores, apesar de condicionados pela falta de rotinas e de entendimento que surge naturalmente com o tempo (havendo tempo para isso), parecem muito mais empenhados, com vontade de pressionar o adversário e de recuperar a bola rapidamente, dentes e punhos e pernas e joelhos e tudo misturado. Falta velocidade nas movimentações mas há vontade, disso não há dúvidas.

(+) Ruben na segunda parte. Depois de uma primeira parte em que os homens do meio-campo estiveram apagados, foi Herrera quem mais tentou pegar na bola para servir como transportador do jogo desde a nossa defesa. Ruben, jogando como âncora no centro do terreno e um pouco mais recuado que o mexicano, esteve pouco em jogo e apenas no final do período começou a rodar a bola com mais intenção, com vários passes de 30/40 metros a lateralizar o jogo de uma forma quase perfeita. Na segunda parte mostrou bem mais serviço quando Herrera saiu para a entrada de André² e só precisa de ser mais rijo no combate para ganhar o lugar a Danilo. Ou pelo menos para ser o líder do meio-campo contra 90% das equipas do nosso campeonato.

(+) Os centrais. Não são geniais mas parecem estar a entender-se bem. Práticos, sem inventar e a ajudar na rotação de bola de uma forma rápida, estiveram bem nas intercepções e no controlo da zona defensiva. Não tiveram muito trabalho…mas os próximos dois jogos vão ser uma prova de fogo para ambos.

(-) Varela. Trapalhão, ineficaz e completamente em sentido oposto ao que vinha sendo produzido, no seu ou no outro flanco. Dava ideia que o FC Porto conseguia construir bem, trabalhar bem a bola sem a mastigar e mal conseguia chegar perto da área…Varela aparecia para largar fezes em cima do merengue. O facto de um plantel do FC Porto estar tão depauperado que tem de depender do Silvestre como titular deveria dar muito que pensar à Direcção e especialmente aos adeptos, para perceberem a dificuldade titânica que Nuno está a enfrentar neste momento.

(-) Herrera. Mais um jogo de trampa, não foi, rapaz? Oh se foi, desde os passes que ninguém compreendia até às perdas de bola infantis que teve no centro do campo, esteve mais uma vez abaixo do exigido para um jogador fundamental no primeiro momento de construção do nosso futebol. Mais uma vez repito a frase que um dos meus companheiros de lugar tem vindo a dizer quase como mantra: o melhor que fazíamos neste momento era vendê-lo. Pelo posto que ocupa e pela importância do seu lugar, está a ser um peso morto e precisávamos de alguém…sei lá, melhor. Ou no minimo mais consistente.

(-) Ineficácia ofensiva. Certo. Ora são mais 20 e tal remates com um golo. É verdade que o Moreira fez um jogaço de grande nível (algo que nunca fez no Benfica, né?) mas o FC Porto criou muitas oportunidades de golo, a grande maioria delas dentro da grande área porque raramente houve remates em condições de fora da área. E não se podem falhar tantas bolas tão perto da baliza contrária, no nosso campeonato ou nos distritais. A diferença é que nos distritais arriscam a levar com legumes nos dentes à saída para o balneário.


Dois jogos, duas vitórias. Começamos bem, amigos.

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