Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Rio Ave

foto retirada do zerozero

Quando os jogos começam a ganhar contextos de “vitória or bust”, exigem-se exibições deste nível, onde os jogadores encaram a partida com cinismo, sentido prático e acima de tudo noção de responsabilidade para vencer sem ser preciso jogar bem. Ou bonito. Ou só jogar. E à boa maneira de Mourinho em 2004, foi um jogo que controlamos sem dominar e que teve dois vencedores: o FC Porto e Sérgio Conceição. Notas abaixo:

(+) Ganhar vs jogar. É uma forma interessante de ver um jogo de futebol e algo que raramente acontecerá se não estivermos a torcer por nenhuma das equipas que está em campo: aposto que ninguém estará muito entusiasmado a ver um jogo em que uma equipa joga apenas para ganhar e preferiria que ambas as equipas estivessem em confronto de ideias iguais, numa espécie de justa medieval entre cavaleiros semelhantes e que dura noventa deliciosos minutos em que um e outro se equiparam de olhos nos olhos e atacam com as mesmas armas e a mesma mentalidade. Nem sempre é assim, sabem, meus líricos do carago. Por vezes, os treinadores optam por vencer o jogo em vez de jogar bem e foi isso que o FC Porto fez hoje. Abdicou de jogar para ganhar. Adequou a sua estratégia às valências do adversário, percebeu como o contrariar e fê-lo bem. Fê-lo muito bem. A espaços, fê-lo extraordinariamente bem, tão bem que quase sem atacar podia ter goleado o Rio Ave. E garanto que este Rio Ave pode jogar melhor que o adversário em oitenta por cento dos jogos que disputa. Mas vai perder sempre que apanhar uma equipa que jogue para ganhar.

(+) Pressão alta. Foi o ás na manga de Sérgio Conceição e que abanou toda a construção do Rio Ave, um pouco como todos os adversários nos fizeram no início da curta carreira de Paulo Fonseca no Dragão, quando os jogadores não conseguiam quase sair da área sem serem pressionados. E foi com empenho e qualidade que a equipa apertou toda a linha defensiva do Rio Ave de uma forma de tal maneira sufocante que até a ver o jogo na televisão me cansou ver a equipa tão esticada no terreno. Funcionou muito bem e só não marcamos mais golos porque mais uma vez estivemos em dia de fartura de oportunidades e fome de eficácia.

(+) Ricardo. Não sei o que me fez gostar tanto da exibição dele hoje. Se as subidas muito bem feitas pelo flanco, as intercepções pelo ar ou pela relva, a maneira como apanhou o Yuri Ribeiro sempre com muita vontade de o vergar a um falo metafórico e de lho enfiar pela goela abaixo (sim, é mais um daqueles gajos que merece engolir tudo o que lhe derem para engolir, esse neo-Briguel) ou até pela maneira como o vi sempre muito empenhado e sem falhas. Gostei, mais uma vez.

(-) Demasiados golos falhados. Meninos, não me lixem. Houve demasiadas oportunidades falhadas para poder ser considerado normal. Muitos remates por cima, indecisões na altura da opção de finalização e quase todos estes lances em bola corrida (sim, porque marcamos dois golos de bola corrida, huzzah!) que não se percebe muito bem se os rapazes estavam a tentar colocar a bola de uma forma mais bonita ou apenas se ficaram surpreendidos pela facilidade com que interceptavam a bola logo no início das jogadas. Ainda assim, merecia um dia de treino específico para todos.

(-) A expulsão de Danilo. Só consigo ver aquilo de uma forma: Danilo forçou o segundo amarelo para se poupar em Paços de Ferreira no dia 30, porque para lá de dar um murro na bandeira de canto também insinuou em voz alta que o árbitro se deitava em conchinha com carneiros. Porque se foi apenas pela coisa da bandeira…porra, foi a expulsão mais soft da época e quase incompreensível.


Não pude ir ao Dragão e como tal tive de aguentar o Bruno Prata. Deus está stressado com o nascimento iminente do filho, sinceramente.

10 comentários

  1. Caro Jorge,

    Raramente acontece, mas acho que tivemos percepções bastante diferentes do jogo. Fomos absolutamente arrasadores, em nenhuma altura o Rio Ave sequer sonhou em dominar o jogo. Na primeira parte acho que nem o meio campo eles conseguiram passar em condições. Aliás, ontem poderíamos ter um resultado histórico ao intervalo, uns 5 ou 6-0 com mais acerto; isto porque as situações que criamos foram tantas e de finalização tão simples que 5 ou 6 não admiraria.
    Arrasador, possivelmente melhor exibição da época contra uma equipa que tantos problemas nos criou e tem criado a outros.
    Mas onde estamos mesmo em desacordo é no “sentido prático” ao invés de “jogar bonito”. Bolas! Então o que é jogar bonito? Quantas combinações ao primeiro toque, passes sublimes em profundidade, recepções orientadas a deixar cair adversário, assistências de calcanhar serão precisos para jogar bonito?
    E mais: “quase sem atacar, podíamos ter goleado”? Whaaaaaaat? Só na primeira parte temos ocasiões de golo suficientes para ganhar 3 jogos, enquanto eles não passam do meio campo. Sem atacar? Oh homem, então pa?
    Na verdade, eu acho que ontem conseguimos o equilíbrio perfeito entre o querer jogar para ganhar, jogando bem (a espaços, bonito), condicionando totalmente a estratégia do adversário e sendo completamente arrasadores (não demolidores, por causa da finalização) durante quase toda a partida. But then again, é só a minha percepção. Que é muuuuuito diferente da tua hoje, não sei se já tinha dito :)

    Feliz natal!

    1. por tua causa pus-me à conversa durante a hora de almoço e percebi o que queres dizer. e mantenho o que disse, nós não atacámos, nós contra-atacámos. mas isso não foi uma crítica, caso contrário tinha colocado nos Baronis, como é evidente! foi uma constatação de que não quisemos ter a bola deliberadamente, com uma estratégia que fazia com que o Rio Ave a perdesse e nós aí…pumba, atacávamos, mas curto, incisivo, no break, a aproveitar os espaços. mas não me digas que fomos uma equipa ofensiva porque não fomos! :)

      agora sim, fizemos combinações bonitas, sem dúvida. mas não o fizemos em ataque continuado :)

      abração,
      Jorge

  2. O Bruno Prata não é mau. Aliás, o programa Grande Área, com ele mais o Rui Malheiro e o Postiga, é o melhor programa de futebol em Portugal. FUTEBOL, não o q se vai falando nos outros. Um abraço portista 🙂

  3. Abdicou de jogar para ganhar!!!!
    O que será jogar? Será o que fazem Francisco Geraldes, Oliver, Pizzi, André André?
    Ou será o que fazem Draxler, Herrera, Danilo, Matic, Arturo Vidal?
    Há gostos para tudo, mas há uns que jogam futebol e outros que se entretêm com a bola.

    1. carago, da próxima vez coloco “jogar” entre aspas para perceberem o que eu digo :) eu não disse que desgostei, homem! só achei que nós não atacamos no sentido tradicional da equipa grande que pega na bola e está constantemente com ela nos pés ou pelo menos com posse de bola alta e a tentar furar. não foi uma atitude “normal”, mas foi a atitude perfeita! :) e neste caso nem é uma questão de gosto, porque eu adapto os meus gostos ao tipo de plantel que temos, raramente sou um homem de ideias extremamente fixas. já houve alturas em que só gostava de futebol à Championship, pontapé para a frente à maluco e siga. depois fiquei mais lentinho e gostei mais do Pep. agora…eh pá, neste momento quero é ganhar e se a táctica certa para ganhar for de 9-0-1, fuck it, ganhemos :)

  4. Não concordo nada que o Porto tenha abdicado de jogar à bola ou sequer jogar bem e tenha “jogado para ganhar”. É logo daquelas coisas interessantes, então no resto do ano jogam só para o empate mas quando apanham o Rio Ave dizem ah não, desta é para ganhar? Vale petardos de força?

    Concordo ainda menos porque pareces considerar que “jogar bem” é ter posse de bola (pelo menos foi a única coisa que o Rio Ave teve ontem, que aparentemente jogou bem). Ou pelo menos isto é o que os “líricos” acham, não sei onde é para chegar.

    Jogar bem e jogar para ganhar é exactamente a mesma coisa. Jogar à defesa e marcar no único remate à baliza não é jogar para ganhar, é ter uma sorte do carago. Ter 70% de posse de bola mas mal rematar à baliza e permitir ataques a torto e a direito não é jogar bem, é ter uma estratégia parva e possivelmente maus princípios ofensivos ou maus jogadores.

    O Rio Ave ontem não jogou bem, foi completamente comido pelo Porto. Tendo em conta que pelas oportunidades do jogo podia ter acabado com 5 ou 6 golos para o Porto, a única coisa que houve pela parte do treinador deles foi teimosia depois de ver bola atrás de bola cair nos tijolos do Marega isolado. Ou baixa as linhas ou passa a treinar o controlo da linha defensiva melhor. Foi só ridículo para uma equipa da primeira liga de que tanto se disse bem.

    O Porto jogou bem. A grande razão para não ter mais posse de bola não foi um Rio Ave asfixiante, mas sim um Rio Ave constantemente mal posicionado que convidava o Porto a atacar em 3 ou 4 toques. Jogar mal teria sido ver a defesa do Rio Ave escancarada na linha do meio campo e dizer não senhor, joga atrás, vamos construir com calma e deixá-los recompor-se.

    Jogar bem ou jogar para ganhar não tem nada a ver com posse de bola, tem sim com a situação. Tudo bem, ter a bola quer dizer que os outros não a têm e estão mais longe de marcar, mas isso é tudo situacional. O Porto ontem tinha pouca bola mas estava sempre perto de espetar uma lá dentro. É como achar que o Barça do Pep só tinha posse de bola porque sim. Se eles defendem com 11, circula até haver uma abertura. Agora a festa que não era se fosse esse Barça a apanhar uma defesa assim.

    1. como disse aqui em cima, eu quero é ganhar. mas acho que também leste, como tantos, algo nas minhas palavras que eu não disse :) nada contra, já o fiz várias vezes e talvez não me tenha sabido exprimir da melhor forma. se ouvires o Cavani, que vai sair daqui a uns minutos, já percebes melhor a forma como penso :)

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