Ouve lá ó Mister – Boavista

Caro Rui,

Provavelmente não te lembrarás de mim. Afinal era só mais um dos muitos putos que te ia ver, a ti e aos teus colegas, quando Sir Bobby estava no lugar que agora vais mais uma vez ocupar. E lembro-me distintamente de um treino em que andava para lá com um ou dois amigos, a ver os nossos heróis a chegarem com os bólides a brilharem ao sol, enquanto procuravam um lugar para estacionar naquela zona por detrás do departamento de futebol do Estádio das Antas. Chegaste, com sorriso aberto e olhar terno e simpático, pronto para assinar autógrafos e saudar a miudagem. Saíste do carro, reparaste num grupo de putos que parecia um bom pedaço mais adulto que os outros e, enquanto olhavas em volta, carregaste no botão do alarme e afastaste-te da viatura a caminho do treino para impores os teus cento e sessenta centímetros no relvado secundário do complexo desportivo. Bons tempos, Rui, bons tempos.

Hoje tudo parece diferente. O ambiente mudou (oh, se mudou), os nomes são etéreos, digitais, ausentes e tão distantes desses grupos de miúdos que a única forma que têm de se aproximarem deles é através do vidro do carro enquanto trava para logo seguir disparado a sair do centro de estágio. Não lamento, apenas noto a nostalgia que não conseguirei nunca evitar. E hoje, contra estes mânfios da rotunda que há tantos anos nos lixam a vida naquele estádio (e até no nosso, como tu sabes tão bem), dão-te o comando da caravela cheia de furos e cravejada de escorbutos e outro tipo de infelicidades que se têm vindo a abater sobre nós.

Não espero que ganhes o jogo, só te peço que o tentes fazer. Faz com que os teus jogadores mostrem que estão com força para dar a volta a esta tremenda série negativa e que vamos conseguir sair por cima e continuar à procura do título. Ninguém te exige mais que isso, Rui.

Sou quem sabes,
Jorge

PS: já sei que estão à espera que fale do Julen. Fá-lo-ei durante a semana, quando a poeira assentar um pouco.

8 comentários

  1. Faz-me lembrar o temporal que assolou a cidade do Porto o ano passado, quando os axadrezados nos visitaram e o Maicon foi expulso.
    Como estará o relvado no Bessa logo à noite?

  2. Um exemplo de humildade e profissionalismo, o Rui Barros. Mesmo nos jogos a feijões do Porto Vintage dava sempre tudo em campo e depois era a último a abandonar o pavilhão. Hoje viu-se mais objectividade. Espero que não haja mais invenções e que o Jorge Mendes não impinja o Sampaoli.

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