O próximo é sempre mais complicado

Não é de agora e não creio que vá parar por aqui. Esta forma muito peculiar das equipas grandes abordarem os jogos contra outras que no plano teórico lhes serão inferiores é algo que me massacra a alma desde há muitos anos (vejo futebol desde o meio dos 80s e sempre fiquei lixado com estas tretas) e, mais uma vez, não me parece que termine a curto ou médio prazo. E este tipo de irracionalidades acontece por uma enormidade de razões possíveis, típicas de quem errou sabendo que não podia errar. É a Champions, pela dificuldade do jogo seguinte e pela montra para possíveis transferências a fazer com que o jogador tire o pé ou faça um sprint a menos; é a parte física, que não está ainda em condições e que impede o esforço extra; é o desconhecimento das características dos colegas, que fazem com que haja menor entrosamento; é a táctica que não entendem e a movimentação que não compreendem.

Bollocks.

É facilitismo, apenas isso. É a hubris de um grupo de homens que vê o adversário como um alvo fácil, como se a maçã do Guilherme Tell fosse uma abóbora e o seu filho fosse Tyrion Lannister. É ver o jogo como uma sucessão de passes e remates até que o próximo certamente vai entrar e o(s) golo(s) serão suficientes. É sempre isto e não consigo engolir esta casca de melancia que se atravessa na garganta quando olho para o resultado e vejo que sofremos dois golos evitáveis de uma equipa que está em lugares de descida, que se bateu com garra e com força contra nós e que não conseguimos mostrar em campo que somos melhores que ele no papel.

E decepciona-me ver que Lopetegui não consegue mudar esta maré.

8 comentários

  1. Caro Jorge e amigos,

    Parece-me que existe uma grande disparidade entre aquilo que enquanto adeptos julgamos ser a realidade e aquilo que mais provavelmente o é. Por pontos:

    1 – A responsabilidade é sempre do treinador. Absoluta verdade aos olhos de qualquer adepto, eu incluido. Mas será justa esta afirmação? Correspode à verdade? Obviamente não. Demasiado redutora e simplista. Durante a semana a EQUIPA treina para os 2 jogos que se seguem e nunca apenas para o próximo como dizem na TV para apaziguar os adeptos. E a EQUIPA começa nos tratadores da relva no Olival e acaba no Presidente, com Lopetegui e jogadores pelo meio.

    2 – Porque é que alguns jogadores só jogam bem na Champions e contra o Benfica? Porque os prémios são muito maiores e a visibilidade é astronómica. Ninguém no planeta para além dos adeptos ferrenhos quer saber do jogo contra o Moreirense e a prova está aqui: Quantos comentários foram deixados aqui (e noutros pontos da Bluegosfera) antes e depois do jogo com o Moreirense? Só quando não ganhamos é que aparecemos aos magotes a destilar vitriol contra tudo e todos. Vejam quantos jogadores portugueses jogaram – André, Danilo e Varela – dos quais apenas 1 tem ADN Porto. É de admirar que a equipa renda menos? Claro que não.

    3 – Porque insistem em utilizar o Herrera e o Brahimi – e agora também o Corona? Porque não joga Bueno? Porque os contratos celebrados com quem financiou estas aquisições provavelmente assim o exigem. Há que rentabilizar activos com mercado. Os jogadores esses são apenas única a “mercadoria” que temos já que no planeta poucos querem ver jogos do FC Porto. Nem de patrocínio nas camisolas precisamos quando por ano nos propomos a realizar mais de 50M Euros em vendas de jogadores.

    4 – O que fazer então? O adepto do futebol moderno, também conhecido como futebol-espectaculo, tem de por de lado a noção antiquada de que a equipa joga para a “glória” e que os valores de “desporto” ainda vigoram nos patamares mais elevados da competição. O que interessa é apenas o dinheiro que se consegue sacar aos adeptos, seja através de publicidade (TV), vendas de bilhetes e merchandising. Tudo o resto é uma ilusão que nós criámos e que a “máquina” que gere o futebol se limita a alimentar.
    Tudo não passa cada vez mais de uma narrativa. Quem quer ver futebol a sério – o desporto – tem que procurar ligas não profissionais, onde se joga por amor à modalidade e não ao dinheiro. A qualidade dos executantes é certamente inferior, mas o empenho será sempre o máximo.

    5 – Voltando ao FC Porto, por mim hei-de acarinhar para sempre as memórias dos bons velhos tempos que acabaram em 1987 com a conquista da Taça dos Campeões Europeus, competição apenas para clubes campeões e que nunca admitiria terceiros classificados a participar (a menos que fossem os titulares do ano anterior se não estou em erro). No Verão de 1987 o Porto vende Paulo Futre ao Atlético de Madrid por 600 Mil Contos (3 Milhões de Euros na moeda actual) e entra na alta roda do futebol europeu, que durante os 20 anos seguintes se modernizou, adaptando o que eram clubes sociais para empresas com fins puramente comerciais.

    Resumindo, se queremos continuar a ser adeptos da primeira equipa de futebol do FC Porto temos que deixar de ser sócios e adeptos para nos tornarmos “Fãs” e “apoiantes”. A única maneira de influenciar os poderes corporativos que controlam os clubes de top modernos é deixar de consumir o(s) producto que eles nos impingem, porque a única linguagem que o gestor doe futebol moderno entende é a do dinheiro. E não se admirem quando as principais ligas começarem a absorver os grandes clubes das ligas mais pequenas, porque ninguém trava os interesses capitalistas.

    1. O ponto 4 aqui tao bem explorado e a magna-insignia do que e o futebol dos dias de hoje. Eu creio que sera tambem, nao a curto prazo mas a longuissimo prazo quando a formula se esgote na sua propria natureza suicida, a morte do futebol como ele e. Nao sei que outro desporto o vira destronar de rei, mas sei que a parabola ja atingiu o seu ponto maximo, agora e inevitavel que desca porque a expansao financeira assim determinara a implosao. De qualquer forma o treinador quando assume um caro sabe que tem em si toda a tirania quase sarcastica de que os venenos sao dele e as glorias dos demais. trabalho inglorio? Sim. Lidar com vicissitudes a ele alheias? Sim. Mas foi ele que as escolheu e como os jogadores recebe tambem bastante bem? Tambem Sim. Por isso pena so a da aguia que perdeu no Dragao. De resto nao tenho pena de nenhum desses agentes. E o futebol que se criou por quem o criou.

  2. …Ou então, há um problema que não acontece há 11 anos, e que é totalmente novo. E que tem tanto culpa do Lopetegui como minha ou tua. Muito mais culpa da SAD. Quem é que se mandou à bola? Quem pôs o pezinho aos lances? Seis – gajos- seis atrás do Iuri e ninguém lhe dá um chega pra lá porquê? Por causa de amanhã! Aquela frustração do Brahimi é porquê? Por causa de amanhã!

    Sabes quantas faltas fizemos o jogo todo? Sabes quando perdemos os pontos, na sua maioria, o ano passado? Pois!

    Mas isto é culpa da SAD. Este ano, vão voar outra vez oito jogadores? Onde está o R&C? Quantp se abateu na dívida? Dilui-se tudo em comissões? Se a Champions é mais importante que o campeonato….

    O FC Porto sempre tentou ir longe na Champions. Muitas vezes não conseguiu. Hell, o Villas Boas ganhou a Liga Europa, não a Champions! Esta mudança de paradigma é preocupante!

    Abraço Azul e Branco,

    Jorge Vassalo | Porto Universal

    1. Caro JV, esse problema que mencionas tem muito mais de 11 anos. Começou na venda do Futre para o Atleti e exponenciou-se com o advento da Champions.

      Estou mesmo convencido que o Porto está a apostar tudo na ideia de estar no top 20 de clubes europeus que constituirá a futura liga europeia, ou em alternativa, fazer essa transição mediante o passo intermédio de ligas regionais.

      E isto, para quem não tem estado atento, deriva da explosão mediática da Premier League. Alguém faz ideia de quanto dinheiro o último classificado da EPL (como lhe chamam os americanos) vai ganhar só por participar? A estimativa do bem informado blogger Swiss Rambler – http://swissramble.blogspot.co.uk/2015/02/the-premier-league-tv-deal-master-and.html – é que será cerca de 92.4 Milhões de Libras (ou 125 Milhões de Euros e uns trocos). Nem a Champions consegue competir com isto.

      A questão é será que os outros clubes da Uefa vão ficar de braços cruzados a olhar? Onde é que o Porto quer jogar? Contra os Moreirenses e Aroucas? Claro que não! Nós queremos o Barça e o Real, A Juventus e o PSG, O Bayern e o Dortmund. E o Benfica.

      E enquanto não chegamos à mama da TV, há que manter aparência de clube grande, clube que consegue ir buscar um Imbula ou um Corona. Excepto que já não somos um clube. Somos um entreposto de interesses comerciais QUE NOS SERVEM PORQUE NOS PERMITEM TER ATLETAS DE QUALIDADE INTERNACIONAL mas que perde a alma, a referência local e regional das gentes que dele fizeram aquilo que ele (clube) já deixou de ser. Hoje o projecto é sustentar a passada em direção ao paraíso dos mega-milhões de uma mega-liga europeia.

      O resto são sintomas e apontar o dedo a este ou aquele não faz sentido nenhum. O papel do treinador é hoje como o de um realizador no cinema. É um nome que aparece, alguém que apesar de ter uma visão do que o espectaculo deve ser está sempre sujeito às interpretações dos actores (jogadores) mas sem o benefício de poder editar a fita. Alguém imagina ir ao cinema ver um filme em que todos os ‘takes’ são mostrados?

      O futebol morreu no fim dos anos 80. Das suas cinzas nasceu o Futebol-Espectáculo (vulgo ‘Circo’) que temos hoje.

      1. Muito interessante e curioso o que escreves. Lógico também. Daí Pinto da Costa falar de que Lopetegui tem feito um “excepcional trabalho”. Nesse sentido, sem sombra de dúvida! E o FC Porto, no ano passado, jogou muito melhor na Champions (o desaire do Allianz, para mim, não conta, até o Barça perdeu lá) do que no campeonato.

        A ser verdade – e é lógico que o seja – é altamente preocupante.

        Abraço Azul e Branco,

        Jorge Vassalo | Porto Universal

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