Éramos quatro e íamos às Antas. O ponto de encontro era sempre o mesmo, à porta da casa do Telmo para arrancarmos ao início da tarde e tentarmos chegar o mais depressa possível, navegando pelo curto mar de trânsito que nos olhava de frente para nos dificultar a tarefa tão acessível e ao mesmo tempo tão complicada. Nenhum de nós tinha carro, claro. Nenhum de nós sequer pensava em conduzir, mas a vontade era tanta que convencíamos o pai de um de nós a levar-nos à bola.
“Não lhe custa nada, Toni, afinal também vai para lá, não vai? E então, não pode levar a carrinha? Não somos grandes nem fazemos muito barulho, a sério! A polícia não vê nada, acha que sim? Estão mais preocupados com as claques e com os arrumadores e os assaltos à volta do estádio, nem vão ver que leva aí quatro miúdos na parte traseira da carrinha! Nós ficamos abaixados para não haver chatice, a sério! Oh ande lá, oh por favor!”
E lá íamos. Dez ou quinze ou mil quilómetros separavam-nos do estádio, com quatro mini-mânfios enjaulados no cubículo traseiro duma Renault Express, a discutirem tácticas e opções do treinador, delineando nas suas jovens cabeças quem é que jogava no dia, quem ficava de fora, quais eram os suplentes (na altura só cinco no banco e só podiam entrar dois em campo…quão pouca escolha havia!), se o Kostadinov ia marcar mais que o Domingos ou se o Paulinho era o melhor médio do mundo ou se era só de Portugal, porque não te esqueças do “Matáuss” que joga pó Mundial. E se jogasse o Timofte? Estupor do romeno que punha a bola onde queria e onde todos queriam que ele quisesse. Nem o Semedo escapa, ou o Rui Jorge, até o Fernando Couto sem o cabelo todo. E os putos, incautos de SADs e parcerias e fundos e transições defensivas e músicas ao intervalo e cadeiras almofadadas e zonas para mulheres de jogadores e instagrams e warriors e portoscanais e bancadas com nomes e tudo o que não interessava para o jogo, lá iam. Com os olhos a brilhar, o imberbe corpo a pedir para ser esticado depois de espremido, saíam do carro e saudavam o doce ar de uma tarde de Domingo passada em boa companhia no melhor espectáculo do Mundo.
“Estamos nas Antas, rapazes. Querem ir ver os gajos a aquecer?”
Melhor frase jamais foi proferida.
Duas coisas:
– Gosto do design novo.
– Grande texto.
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nuno
gosto que gostes do design :)
grande abraço,
JB
belo texto, grandes memórias!
chegava-se as antas, se nao estivesse muita fila, ainda dava para ver o aquecimento no campo de treinos :) tudo era tao mais simples!
muito bom…:)
Se se chegasse muito cedo, ainda se conseguia ver o jogo dos Júniores. Vi o Académico de Viseu a levar 7 antes daqueles aquecimentos fantásticos do Roger Spray. Aquilo sim, eram aquecimentos à FC Porto!!
http://en.wikipedia.org/wiki/Blue_Moon_Rising_%28film%29
Vi o documentario a semana passada e ao ler o texto veio-me logo à memória.