Nos comentários ao artigo que antecipou o jogo, um habitual comentador (Pudget) vaticinou um seizazero. Ria-me quando li o bitaite do rapaz, untado com a previsível volúpia de uma noite que se queria mágica mas acima de tudo vitoriosa e prática. E o rapaz lá acertou, mas não creio que o fizesse de propósito, porque o FC Porto venceu bem e os números não enganam na diferença de talento entre as equipas. Mas foi um jogo em que nos correu tudo bem e que raramente se irá repetir, desde a inovação táctica de Lopetegui, passando pela exibição fabulosa de Brahimi e terminando no acerto perfeito de Maicon na defesa. Foi muito bom, quase perfeito, e deixa a moral em alta depois do jogo cinzento de Guimarães. Vamos a notas:
(+) Brahimi. O lance do segundo golo é notável por vários motivos. Impossível de dissociar do golo de Tarik contra o Marselha aqui há uns anos, pelas incontestáveis semelhanças que ambos partilham (apontado num jogo da Champions, depois de uma correria desde o meio-campo de um jogador de origem árabe, fintando meia-equipa e rematando para o fundo da baliza), é na forma como Brahimi percorre os últimos dez metros, em toque curto, drible com a bola sempre a centímetros de ambos os pés, noção perfeita de baliza e enquadramento com a mesma. E o primeiro, com o remate perfeito de pé esquerdo? E o terceiro, igualzinho ao golo contra o Lille? E o resto dos toques e arranques e fintas e deambulações da linha para o centro? E começarmos a pensar que este rapaz é um talento do carago que eu já vinha a dizer desde a pré-época que se tivesse alguma sorte e consistência seria um dos melhores jogadores do campeonato? Chegou, viu, marcou e venceu. Uma vénia, caro Yacine.
(+) Maicon. Quem viu Maicon a chegar em Julho de 2009, não acredita no que vê agora. Escrevi sobre ele em Janeiro de 2010: “É lento demais, passa a bola com força a mais e é sempre um susto quando a bola vai para perto dele e tem um adversário a pressionar. Eu que sou do tempo de ver jogar o Alejandro Díaz, digo: não serve.” e hoje começo a penitenciar-me pela falta de crença na capacidade de um jogador que tem vindo a melhorar e é hoje em dia o patrão incontestável da defesa. Perfeito na intercepção, atento no posicionamento defensivo e ágil no corte, tem estado em grande neste início de época e é um dos responsáveis por termos apenas um golo sofrido até agora. Excelente jogo.
(+) Danilo. Está cheio de moral e nota-se, tanto pela força que coloca nas subidas como na capacidade de recuperação quando a bola é perdida por si ou por qualquer colega. E Danilo vive disso, da moral que lhe é dada pelas boas exibições, ele que é um caso para entregar a um psicanalista, tão propenso que é a desânimos e desatenções em jogo. Tem-se entendido bem com qualquer um dos companheiros que jogam à sua frente mas é na solidez defensiva que se vê a evolução dele em terras lusas desde que chegou. Já não queres ser médio-centro, pois não, rapaz?
(-) As transições de Herrera. Fica sempre a impressão que podia fazer melhor. Não “mais”, apenas melhor. Herrera é o anti-Óliver: o espanhol já sabe o que vai fazer quando a bola lhe chega, ao passo que o mexicano, incorporando todos os clichés sobre o seu povo, demora uma eternidade com a bola nos pés para depois raramente tomar a melhor opção, especialmente quando baixa a cabeça e se recusa a tentar perceber o melhor caminho por onde devia fazer seguir o esférico. Sim, joga muito sem bola, movimenta-se defensivamente para tapar as investidas contrárias, mas quando recebe a bola no centro do terreno tem de ser muito mais rápido e astuto na decisão.
(-) O desaparecimento do meio-campo. Lopetegui arriscou, sem exageros. Aquela espécie-de-4-2-4-ou-talvez-4-4-1-1 foi uma inovação que já não via desde alguns jogos-treino de Jesualdo, ou se quisermos falar a nível oficial, desde que Octávio colocou Pena e Esnáider juntos na frente…mas talvez tenhamos de recuar até Robson para vermos uma verdadeira dupla de ataque. E esta dupla que vimos hoje não foi bem uma dupla mas acabou por fazer com que o “4” do meio-campo se transformasse num “2”, com Casemiro e Herrera a funcionarem como tampões…que não funcionaram. Percebo a omissão de Ruben Neves (muito melhor como “6” onde Casemiro tem mais força e experiência) e a presença de Herrera mais recuado, mas o FC Porto vê-se invariavelmente obrigado a jogar pelos flancos durante as alturas em que o adversário se vai fechando, simplesmente porque não há movimentações (nem homens) suficientes na zona central para que o jogo por lá possa fluir. E a não ser que apareça um espaço milagroso, putativamente criado pelo “1” atrás do ponta-de-lança, a construção torna-se enfadonha e recua tudo para começar de novo. E se Adrián pode funcionar bem sem bola, a arrastar os defesas como fez no segundo golo de Brahimi, a verdade é que passou grande parte do jogo sem se conseguir safar dos (fracos) defesas nem criar jogadas de perigo, ao passo que os médios, quase sempre bem posicionados para recuperar a bola, foram incapazes de romper com ela controlada em posse. Depender de Brahimi, Tello ou Quaresma é muito frágil para uma estratégia consistente de ataque.
(-) BATE. Há uma diferença entre ser uma equipa que joga na Champions e outra que tem jogo de Champions. O BATE, infelizmente, faz parte do primeiro grupo, porque se o que mostrou hoje no Dragão é o melhor que pode e sabe fazer…então, meus amigos, cheira-me que vão corridos pelas outras três equipas com seis derrotazinhas para esconder bem lá no fundo e não mostrar a ninguém com vergonha. Salvo qualquer catástrofe, não contemos com ajudas deles nos jogos contra os outros dois grandes do grupo.
Uma grande vitória. Uma vitória grande, talvez seja o termo mais adequado, mas o que interessa é mesmo a vitória. Há dois anos que não sabíamos o que isso era em jogos da Champions no Dragão. Obrigado, rapazes.
Já que estamos em previsões: o BATE vai fazer 4 pontos, e não zero. Agora descubram como (hint: connosco fazem mesmo zero…)
Nota final: 2012/2013, época em que o Bayern ganhou tudo com o Jupp Heynckes, perdeu na Bielorrússia na fase de grupos com este BATE por 3-1. E jogou com a carne toda: Neuer, Lahm, Dante, Boateng, Badstuber, Javi Martinez, Luiz Gustavo, Muller, Kroos, Ribery, Mandzukic. Aqui, para conferir: http://www.zerozero.pt/jogo.php?id=2357720
Recordar antes de ir lá jogar, não vá alguém achar que são favas contada.
Um jogo como á muito não se via no Dragão! Rapidamente passando aos pontos menos bons, também acho que este meio campo deixa muito a desejar, muito mesmo, as criticas que apontou a Herrera seriam as mesmas que se podem apontar a Casemiro, um jogador que ainda nos vai dar dores de cabeças, mau posicionamento para receber a bola, quase sempre de costas para a baliza adversária, sem ver o jogo ou a pressão que vai chegar, demasiado lento… enfim, acho que a nível de meio campo falta-nos um patrão!
Não falta não, caro amigo! Chama-se Campaña! Que grande, grande 6. o Emanuel vai ver!
Nem mais Jorge!
Muito bom jogador por aquilo que mostrou contra o Oriental… precisamos de o ver na A agora.
Mas o Ruben Neves é um 6 muito melhor que o Casimiro. Falta-lhe outras coisas, mas posicionalmente é muito forte.
continuo a achar que a mais-valia dele é a simplicidade de processos. recebe, olha, passa. um Gerrard em potência.
Nao tem o fisico do Gerard…. Um Pirlo e nao um Gerard. E digamos que chegar a um nivel parecido do Pirlo ja é chegar a ser dos melhores do mundo por isso ja lhe estou a colocar um tecto bem alto.
Eu durante muito tempo tive um blogue do qual sinto uma falta imensa, chamava-se Contingente Tuga e seguia as carreiras de todos os profissionais portugueses de futebol espalhados pelo mundo. De treinadores a jogadores, de ligas profissionais de topo ate a mais baixa das prestacoes no Vietname, o Contingente Tuga foi durante o tempo em que esteve activo um prazer imenso. Creio que faz falta, muita falta mesmo, a dinamica de patriotismo e o cuidar dos nossos faz falta num pais que se desintegra a olhos vistos perante uma hecatombe economica sem hipotese de correccao (a menos que se saia da meoda unica). Mas a razao que me faz regressar aos tempos desse dito blog tem a ver com previsoes futebolisticas que eu atirava como barro a parede. Vezes sem conta la estava eu a prever o que se passaria com o meu clube num distico de possibilidades fora do contexto do blogue. Vezes sem conta acertei, como esta epoca e tantas outras epocas tenho acertado. Serei o maior do meu bairro, claramente nao. Assim sendo, nao sou o maior de nada e ponto final. Conheco o futebol com a confianca do topo dos meus 35 anos e olho para o meu clube com uma visao muito peculiar de quem sabe o que ve. Esta epoca acertei 3 em 4 resultados do Porto, nao porque sou o maior do meu bairro mas porque conheco muitissimo bem o meu clube. Os seis a zero eram uma inevitabilidade num clube que joga em casa perante um publico faminto de vitorias. O BATE sendo uma equipa banalissima, de um pais onde o futebol e de mediocre qualidade, em que a estrela do ataque do clube e um tipo de 22 anos que em 21 jogos facturou 6 golitos e um medio de seu nome Mikhail Gordeychuk que o melhor que fez foi realmente esta epoca (com 8 golos em 13 jogos), perante a acutilancia atacante de um Porto que investiu milhoes e necessitava do retorno inquestionavel dessa investimento em campo… nao poderia ficar-se por um 2, 3 ou 4 a zero, depois de um empate envergonhado frente a um Vitoria de Guimaraes a la Flavio meireles, pau porrada e pouca parra. Posso ate nunca mais acertar num resultado do meu clube, o que duvido porque conheco e amo o meu clube ate a medula da nossa essencia, mas sei que os meus acertos nada tem a ver com sorte ou com mera intuicao. Sao fruto de conhecimento e estudo quase naturais. Com £0.60 ontem fiz 30 libras que pus na conta do meu filhote, para um dia ele vir ao Porta 19 versao 2035 e chutar um bitaite do genero, Porto 7 Benfica 2, que fara rir a bom rir uma leva enorme de velhos do restelo ou gente de pouca fe, e depois nos highlights do tv golo o marasmo… afinal aconteceu. Fora todas estas coisas que nao quero que emanem qualquer tipo de narcisismo, o que interessa e que tinhamos capacidade para dar 6 a 0 e demos 6 a 0. Missao cumprida.
Quando estavam seis só queria que não houvesse o 7 para que não falhasses o prognóstico… que digamos foi bem mais acertado que o meu 4-3-3 que nunca o foi! :)
Grande vitória… agora chegam metades ao Boavista!
Mas quem diz que 7 a 2 é impossível ? Até dá para chorar de alegria !
Muito bom, tudo muito bom, desde o jogo aos golos do Brahimi, desde este B&B ao “bitaite” do Pudget. Tudo 5 Estrelas.
Jorge, se me permites apenas um pretensioso preciosismo, Yacine é, tal como Tarik, genealogicamente de origem magrebina (apesar de ter nascido e crescido em Paris e arredores) e não árabe. Muçulmano de fé talvez, mas não de origem geográfica.
Abraços.
tens toda a razão. entusiasmei-me e falaciei. não voltará a acontecer :)
obrigado pela correcção!
Jorge
“Falaciei”. Muito bom…
Não tens de quê. Eu sinto-me péssimo vir para aqui corrigir o que quer que seja e tu tens paciência para me aturar.
Abraços!
oh, pronto, não vamos agora começar aqui em espiral de modéstias :P acho que fazes muito bem em corrigir-me ou qualquer outra pessoa! só um gajo excessivamente arrogante não admite um erro!!! ;)
On a completely different note… Ja repararam que a apartir do momento em que o Fernando se lesionou, ao minuto 38 do jogo do City frente ao Stoke, o Manchester City NUNCA MAIS venceu um jogo, e ja la vao tres!!!!!!!!
ainda bem :) adoro quando vejo jogadores “nossos” a terem impacto lá fora.