Cores? Que cores?!

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Há alguns anos que cá ando a acompanhar o meu clube. Comecei a ver futebol nos longínquos anos 80 que parecem cada vez mais desaparecer na memória colectiva, mantendo-se vivos em imagens paradas no tempo de jogadores míticos de calções reduzidos e camisolas espartanas. E desde essa altura que me recordo de grupos de homens de diferentes nacionalidades começarem a aparecer no FC Porto. Brasileiros, como era habitual no nosso futebol, enchiam os cadernos com bandeiras diferentes da nossa, acrescentando a qualidade que nos faltava cá no burgo. Eram poucos no início, mas os números começaram a aumentar quando o mercado se tornou mais fácil e a adaptação menos complicada, e os salpicos de diferentes culturas e hábitos estranhavam-se antes de se entranharem. Lá aparecia um polaco e um belga, um jugoslavo ou um argelino, um sueco ou um uruguaio, trazendo com eles as vivências de urbes distantes, cosmopolitizando a cidade, a partilha de conhecimentos e tradições, ajudando o clube a universalizar-se ainda mais por entre os oh-tão-longínquos burgos da Europa que então parecia tão longe.

Quando Kulkov e Iuran se juntaram à formação em 1994, houve inclementes gritos de estranheza perante o clã russo que se tinha gerado na Invicta, conquistada então por dois bons jogadores que criaram uma atmosfera estranha de nunca óbvia xenofobia tão tradicional no Portugal pós-retornado. E gradualmente, mantendo um contingente interessante de brasileiros de variada utilidade e ainda mais variado talento, várias foram as épocas em que pequenos núcleos foram sendo criados. Era raro o jogador estrangeiro “singular”, havia sempre mais um compatriota a usar as nossas cores, numa forma tão portuguesa de receber para que não houvesse estranheza nos costumes e nas lides diárias, para que os homens de línguas e lides tão diferentes se transformassem em cidadãos com a mesma facilidade que um poveiro ou um gondomarense. E vieram, uns arrastados pela força do mercado, outros pela conjugação do binómio necessidade/oportunidade, sempre com as mãos dos treinadores nos ombros dos rapazes, protegendo os “seus” como se já fossem da casa há anos, ousando mesclar as gerações dos seus antepassados com as de malta das Fontaínhas ou de Campanhã. E sempre correu bem. Sempre correu bem. Sempre soubemos receber, acolher, empatizar com tantas diferentes cores de tão diferentes origens.

São capazes de me dizer qual é o problema então de ter quatro ou cinco espanhóis na equipa, depois de tantas vitórias em tantos anos com tantos brasileiros, argentinos, uruguaios e colombianos?

11 comentários

  1. O problema Jorge? O problema e que os portugueses nunca estao bem com nada. Sao provavelmente o povo que mais delega responsabilidades. Sao o povo que mais receia a mudanca. Condicionantes de uma geografia periferica com uma mentalidade assaz mais periferica ainda. E quando digo sao, digo-o porque me subtraio da equacao logo de estalo. Nao e coisa minha e acredito que nao seja coisa de muitos outros portugueses. Mas a maioria nao e nem xenofoba, nem racista, e apenas de mentalidade periferica e por tal social e cronologicamente atrasada em relacao ao pulsar normal do que e a evolucao do colectivo humano. Esse e no meu entender o problema. E dava para uma tese de doutoramento se me pusesse aqui a deambular ainda mais.

  2. Eh pá tens razão, mas caramba… espanhois… !? Os sul americanos ainda dão animação ao balneário, fazem umas danças porreiras aquando dos festejos, andam na noite… agora espanhois…!? Os espanhois são bons profissionais, têm garra, dedicação, suam a camisola, e têm um chefe máximo da nação que não está reformado… eu desconfiava desses gajos, não devem ser boa companhia…

  3. Bom dia.

    Eu não vejo problema, mas olho para eles nesta altura com alguma desconfiança por dois fatores.
    1. O jogador espanhol por norma não vinga fora do seu país. Só me lembro de um ou outro no Liverpool por influência do Benitez… normalmente vão para onde há um treinador espanhol.
    2. Assim sendo, acho estranho sermos a equipa do Mundo com mais espanhois no plantel. Logicamente não contam as equipas de Espanha.

    Brasileiros, Colombianos, Argentinos andam há anos a jogar fora do seu país e vingam na Europa… já os espanhóis so brilham em Espanha.

  4. Já não são sinais dos tempos, são os próprios tempos. Quando temos o mundo na ponta dos dedos parece rídiculo sentirmo-nos chocados de ter jogadores de varias nacionalidades nos plantéis (juniores até séniores).

    A mim apenas me incomoda o facto de termos muito poucos jovens da região Norte de Portugal, e em especial do Grande Porto, a atingir esse patamar de Séniores no FC Porto. Por uma razão apenas, que é a de sentir que o FC Porto ainda representa algo para a(s) localidade(s) onde está implantado e não ser apenas mais uma “marca” que, qual “franchise” americano, possa qualquer dia ser transplantado para a indonésia, ou para o Canadá.

    Daí que eu não tenha pejo em afirmar que concordo com a quotas de home-grown players porque é destes – principalmente os que nasceram em Portugal – que o clube mais precisa para continuar ancorado ao seu espeaço geográfico.

  5. Olá!
    Antes de mais não entendi esta sua frase “criaram uma atmosfera estranha de nunca óbvia xenofobia tão tradicional no Portugal pós-retornado” … ou é muito intelectual e não alcanço ou something’s missing here…

    Não estou na cidade e não sei quem anda a falar à cerca dos espanhóis… Mas, partindo do princípio que somos nós os portistas, acho que anda a ouvir aquela faixa que sempre encontra um defeito “à cautela”, que é para se a coisa corre mal, depois poder dizer: “eu já tinha dito! estava-se mesmo a ver!”
    Infelizmente, há sempre gente que tem mais interesse no “eu é que tinha razão” do que no clube. Mas, adiante!

    Quanto aos comentários aqui feitos pelo “Pedro” e “hmocc” – oh! my goodness! –
    Pedro:
    a) porque é que os jogadores espanhóis morando a dois passos de casa e com um treinador conterrâneo não hão-de vingar?
    aliás nota-se no Oliver e no Tello que estão mesmo a não se dar …
    b) nunca achamos estranho que haja equipes em Chipre ou sei lá onde em que jogam mais portugueses que outras nacionalidades ? no?

    hmocc:
    apre ! só jogadores nortenhos? … e já agora, com cabelo louro ou pode ser castanho ?

    Para finalizar, o Porto foi considerada num estudo, a cidade da Europa onde as pessoas são mais felizes! Pensei que esta felicidade era toda por termos a cidade mais linda e o melhor clube da terra e arredores, e sobretudo de gostarmos do que temos! …
    Parece que me enganei…. hehehe!

    1. O sentido da frase mantém-se mas se escrevesse agora talvez mudasse as palavras. É o que acontece quando se escreve de madrugada de pena corrida ;-)

    2. Carissima Reine Margot, obviamente interpretou o que eu disse – “(…) concordo com a quotas de home-grown players (…)” – com uma expressão típica de nacionalismo exacerbado da qual eu não concordo nem 0.01%.

      Para que fique bem claro para si ou outros que leram o que escrevi de uma forma completamente errada, o que eu quis de facto dizer é que preferia ter sempre pelo menos 2 ou 3 jogadores formados no FC Porto cuja proveniência seja do território português, preferencialmente da zona do grande Porto ou região Norte. E não não precisam de ser arianos, podem ser de origem africana, asiática ou sul-americana. O que interessa é a sua capacidade, talento e entrega ao jogo.

      Para quê? Para que as pessoas do Porto e de Portugal sintam que o clube ainda é do Porto e de Portugal e não apenas mais uma “marca”.

      Resumindo: pelo menos 2-3 jogadores num plantel de 25; pelo menos 1 que seja regular no “onze”. Isto nã é pedir muito, apenas 10% do total. Aliás penso que as quotas impostas pela UEFA são mais rigorosas que eu.

  6. Caro Jorge,
    Essa é uma questão pertinente não só do vosso clube mas do futebol moderno.
    É óbvio que nenhum adepto que se preze prefere ver um estrangeiro bom a jogar no seu clube em vez de um nacional só porque é nacional. Como deves imaginar, eu como benfiquista prefiro o Benfica dos Matics e Cardozos do que o Benfica dos Paulos Madeiras e Calados.

    Falo por mim, obviamente, mas o que me custa ver no Benfica não são os muitos jogadores estrangeiros mas sim ver que a paciência/oportunidades para os jovens tugas não é a mesma para os jovens estrangeiros. E custa-me mais ainda quando se vê talento nacional dar lugar a manquice estrangeira, mas aí já se está a entrar noutro capítulo. O dos empresários e das comissões, e os gajos que “têm” que jogar.
    Em ambos os casos, tenho a certeza que tanto portistas como benfiquistas já sentiram/sentem isso.

    Acho que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Se por um lado me irrita o patriotismo bafiento que muitas vezes se usa na defesa do jogador nacional, por outro também acho que os clubes, com os 3 grandes à cabeça, tinham muito a ganhar com uma aposta mais forte no jogador nacional.

    Em relação à pergunta com que terminas o texto, não vi mal nenhum na pázada de sérvios o ano passado no Benfica e por isso também não vejo mal nenhum nesta aposta forte do Porto em jogadores espanhóis. Acho que por a escolha por si só não constitui um problema. Aquilo com que o adepto se deve preocupar é se a aposta num mercado específico é ponderada ou se é para encher bolsos alheios.

    Dito isto, espero que o vosso balneário este ano seja uma mini Batalha de Ebro :D

    Gd abraço

    1. reduziste a minha visão a uma frase: “Se por um lado me irrita o patriotismo bafiento que muitas vezes se usa na defesa do jogador nacional, por outro também acho que os clubes, com os 3 grandes à cabeça, tinham muito a ganhar com uma aposta mais forte no jogador nacional.”. purrfect.

      abraços,
      Jorge

  7. Não existe nenhum problema com os estrangeiros. Qualquer coisa serve para se fazer troça de outro clube.
    Tal como os portistas e sportinguistas mandaram as bocas aos sérvios do Benfica, agora levam com as dos espanhóis. Pode ser que esses aprendam a não cuspir para o ar.

    O FC Porto deve contratar os melhores, independentemente da sua nacionalidade, pois o objectivo é ganhar. Os adeptos festejam as vitórias e os títulos e não a entrada de jogadores da formação no plantel principal.

    Claro que jogadores da formação dão sempre jeito pela mística, por compreenderem o clube por terem muitos anos de FC Porto, mas isso não significa que se aposte neles cegamente. Se tiverem qualidade, merecem oportunidades, se não, adeus e a maior das sortes para as suas carreiras.

    Jorge, uma sugestão para o blog. Quando se clicar na imagem do post, ir para o post e não para a imagem. Pelo menos na página principal.

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