Se pedirem a dez portistas para mencionar qual seria a composição ideal do ataque do FC Porto 2013/2014, provavelmente receberiam dez respostas diferentes. Jackson, Quaresma (pós-Janeiro) e Varela estariam talvez na maioria das listas mas nenhum deles (nenhum, aposto!) teria um pleno de presenças em todas as putativas linhas ofensivas da equipa. Foram marcados 94 golos, o mesmo número que em 2011/2012 e menos dois golos que no ano passado, e se o facto de raramente termos criado perigo em jogo corrido parece não conseguir explicar a não-diferença nos números, a ineficácia foi um factor determinante na perda de pontos vitais para as conquistas que falhámos.
Foi um ano atípico também pela falta de uniformidade das escolhas de Fonseca+Castro, que pareciam sempre colocar em campo uma táctica que privilegiava o uso de extremos rápidos que poderiam furar as linhas adversárias, para rapidamente percebermos que os extremos em campo não eram rápidos e a maior parte das vezes nem extremos eram. Ricardo e Kelvin, das poucas vezes que jogaram, deram alguma velocidade ao ataque, mas o português leva a melhor sobre o brasileiro, que talvez por ainda se sentir a navegar por cima da tremenda onda de expectativa e aura messiânica conquistada em Maio de 2013, nunca conseguiu uma vida fácil e acabou por jogar um miserável conjunto de 356 minutos nos As (apenas um jogo a titular) e pouco mais nos Bs. Kayembe foi utilizado apenas no final da época, Iturbe fez uma boa pré-época e acabou cedido mais uma vez (para nunca mais voltar), ele que poderia ser um jogador diferente, com velocidade e boa técnica mas que não foi aparentemente considerado vital para Fonseca aquando da separação das águas em plena pré-época.
Licá começou por ser aposta mas a vontade de jogar e o empenho colocado em campo eram diametralmente opostos à capacidade técnica e à adaptação a uma posição que não era a dele e que o rapaz nunca conseguiu esconder as enormes dificuldades que mostrava em todos os jogos que era obrigado a lá jogar. É mais um caso de má avaliação de uma contratação que pareceu interessante de início mas que não se mostrou capaz de assumir a titularidade permanente numa posição em campo para a qual não estava talhado. Josué acabou também por ser utilizado nessa mesma posição, com os mesmos resultados. Do outro lado, Varela passou mais uma época de alguns altos e enormes baixos (exemplos: Baía: “O primeiro golo foi bom (Varela ANTECIPOU-SE ao defesa!!!), mas o segundo é estupendo, com um slalom a aproveitar o espaço que lhe ia sendo dado e qual Messi núbio se aprontou para um remate seco e bem colocado“; Baroni: “Não. Fez. Nada. Mariano González com três litros de vinho e o pé direito amarrado às nádegas tinha feito melhor.“) e valeu-se da experiência para continuar a entrar em campo com a nossa camisola porque, sinceramente, não havia melhores opções no banco ou na bancada.
Quaresma, por seu lado, apareceu mais esforçado que o imbecil molengão que daqui saiu no Verão de 2008, mas continua a ser um jogador bipolar. É verdade que marcou vários golos e deu outros a marcar, mas o estilo “a bola é MINHA” continua a não ter apoio das bancadas a partir do segundo ou terceiro lance desperdiçado pelo egoísmo próprio de alguém que sabe o que fazer com a bola mas raramente percebe que não se podia cingir a isso numa equipa dilacerada pela falta de confiança. E se também é verdade que foi dos poucos que pegou na bola com convicção e tentou fazer algo com ela ao contrário de tantos outros que se limitavam a passar a bola para o lado ou para trás com medo do que poderia acontecer se a perdessem, a verdade mais pura é que Quaresma precisa de uma equipa que o suporte. Nos dois sentidos.
Terminando com os pontas-de-lança, Jackson fez 29 golos nos 51 jogos que disputou, muitos deles deprimentes festivais de desperdício, com lances dignos de entrarem para o Watts da Eurosport pela aparente impossibilidade da falha ser ultrapassada pela expressão de frustração dele próprio e de todos os portistas na bancada e em todas as bancadas do Mundo. Acabou a temporada como melhor marcador do campeonato mas não se livrou de muitas críticas, especialmente por parecer menos empenhado que no ano passado após Falcao se ter lesionado gravemente, o que levou a que muitos adeptos tivessem pensado que se estaria a poupar para o Mundial. A súbita subida de forma de Bacca no Sevilha pode ter ajudado a que Jackson tenha subido de produção (ou tentado, pelo menos), mas apenas os números obtidos justificam uma nota positiva. Ghilas, que tantos adeptos pediram que fosse opção usada mais vezes por Fonseca e Castro, apareceu várias vezes em bom plano mas raramente foi consistente nas exibições. O “homem-dos-cinco-minutos”, como começou a ficar conhecido na bancada, não pôde fazer mais com tão pouco tempo de utilização e a adaptação a uma posição de avançado interior / falso extremo não o ajudou. Gostei do espírito e da luta, mas preferia tê-lo visto mais vezes numa posição mais central.
O quadro-resumo dos avançados fica abaixo:
GHILAS: BAÍA
ITURBE: BARONI
JACKSON: BAÍA
KAYEMBE: BAÍA (pela época no FCP B)
KELVIN: BARONI
LICÁ: BARONI
QUARESMA: BAÍA
RICARDO: BAÍA
VARELA: BAÍA
Iturbe: Baía:
na pré época foi o melhor jogador da equipa.
Quando saiu, brilhou em Itália.
No resto da época, ou não jogou ou foi colocado ao calhas na equipa, longe da posição de extremo.
Quaresma: Baroni
1% de inspiração 49% de transpiração, 50% de trapalhice. Fazia-se um grande resumo com os livres que marcou para o ar, roubando a bola a outros mais competentes. É preciso um jogador que jogue bem em mais do que um jogo em cada 10.
O Varela quanto a mim não merecia um Baía…
Três jogadores que gostaria de comentar as análises:
Jackson – Fez uma grande primeira volta. Eu sei que a malta lembra-me mais da segunda que da primeira, mas não convém esquecer que foi ele muitas vezes a salvar a equipa. Ele que teve um aproveitamento muito bom nas bolas paradas nessa fase (Cantos e livres de Josué!). Baía justo.
Kelvin – O Baroni é justo, não pelo que fez na A, pois mal teve minutos, se é que teve… Mas pelo que não fez na B. Se não se consegue destacar na B e deixa até de ser opção, faz sentido que mal tenha calçado na A. Baroni justo.
Varela – A única nota que não concordo. Eu sei que pareço o MST sempre a malhar no Varela, mas eu acho que ele até tem razão quando fala deste jogador. O Varela é tal e qual o Mariano, aquele jogador sem qualidade para jogar na equipa, mas que é titular porque os treinadores têm mais medo dos pontos fracos de um Ricardo que dos pontos fracos do Varela.
O Mariano era um jogador esforçado, mas sem qualidade. Até tinha alguma qualidade no drible, mas falhava em tudo o resto. A sua jogada habitual era conseguir passar por um ou dois adversários e cruzar para os Super Dragões (ou até mesmo para a VCI). Houve ali uns joguitos, em que ele envergou a braçadeira, que fez uns golaços (Sporting e Académica se me lembro bem). Resumidamente, ele era esforçado e parece que também conseguia ter voz no balneário, mais que não seja pelo exemplo que dava, mas a sua qualidade era manifestamente insuficiente.
O Varela é um jogador que vejo, como único ponto forte, a finalização. Não é um jogador assim tão rápido, pelo menos não o demonstra, e raramente tira um coelho da cartola (Assim de repente, só me lembro contra o Benfica, na Luz, para a Taça e contra o Gil Vicente, em Barcelos, para o campeonato, como referiste no texto). Não se destaca a cruzar, ou a driblar. Parece-me um jogador que joga apenas pela sua eventual experiência, mas caramba, será que a sua experiência vale tanto para deixar putos cheios de vontade, velocidade e talento no banco?
Eu apostaria sem dúvida no Ricardo. E isto desde o início da temporada. Não vejo nele um fora de série, mas vejo nele um jogador sem medo de arriscar e com velocidade e qualidade. E se não rendesse nos primeiros jogos, faria parte do investimento. Mais tarde estaria a render. Continuamos a ficar dependentes do super-experiente e super-bom-a-ajudar-na-defesa Varela. É pouco, muito pouco. E é de vistas curtas, o que não é habitual no nosso clube.