Baías e Baronis 2013/2014 – O treinador

Por onde começar? A beginning is a very delicate time, dizia Herbert, mas o início do FC Porto 2013/2014 foi vibrante, excitante, com uma Supertaça bem ganha, cheia de futebol rápido e simples, de toque constante e velocidade pelos flancos. E pouco depois começou a baixar de nível, a soçobrar contra adversários mais fracos e a exibir aquela enorme inépcia na finalização e infelicidade na criação de jogadas ofensivas que todos vimos. Muita culpa para os jogadores, eles também incapazes de quebrar uma queda que se adivinhava fatal, sem ânimo nem energia para mudar os destinos de tantas partidas lamentadas durante o ano.

Vamos ao treinador. Fonseca chegou com vontade de trabalhar mas com um discurso clicheizado, sem emoção, sem alma. Não o culpo, afinal foi esta a imagem que tinha passado durante o ano anterior em Paços de Ferreira, preferindo esperar por resultados e exibições em vez de privilegiar a falta de retórica. Mourinhos e Villas-Boas não se fazem todos os anos (sim, eu sou dos que acredita que AVB podia ter marcado mais do que apenas um ano épico no FC Porto) e depois de ver a positiva evolução de Vitor Pereira, podia ser que Fonseca conseguisse pôr em campo algo mais que Vitor Pereira tinha colocado, em especial a nível ofensivo, onde a equipa tinha falhado mais em termos exibicionais do que propriamente nos resultados. E começamos com a história do duplo-pivot, da ausência de qualidade nas opções por extremos naturais, a cedência de Iturbe, o desaparecimento de Fucile e Marat, a subida de Lucho no terreno, as falhas defensivas, a desmoralização de alguns jogadores chave e a inexistência de um fio de jogo concreto.

Mas foi um factor que eliminou Fonseca de vez na cabeça do povo portista e que nunca o conseguiria reabilitar aos olhos dos adeptos, por muito que tentasse: as derrotas. Fonseca perdeu jogos demais contra equipas demais, sem dar imagem de uma luta constante para inverter os resultados. Sucediam-se os jogos absurdos, com um FC Porto incapaz de mostrar o querer de outras épocas, em que os jogadores aparentavam contentar-se com empates e não morriam um pouco por dentro com cada jogo que terminava com nota negativa. E o próprio Fonseca não mostrava confiança para ter os jogadores do seu lado em campo, ao contrário do que era anunciado por si nos treinos, nas conferências de imprensa ou nos próprios treinos. Ouvia-o a dizer que o modelo não era o problema, que os jogadores estavam bem dispostos, animados para recuperar os pontos perdidos, apontando sempre para o próximo jogo como “neste haverá uma resposta à altura”. E nunca houve. Perdoava-lhe as falhas defensivas, alguma menor concentração em jogos menos importantes, desde que houvesse mudanças visíveis nos jogos seguintes. Nunca houve. Comecei a criar a imagem mental do treinador na minha cabeça, de um homem que chegava aos treinos, falava com os jogadores e todos diziam “sir, yes sir!”, sem nunca o sentir. Um homem que tinha a crença de ter o plantel do seu lado nunca o tendo. Que acreditava que Lucho era eterno e duraria para sempre submetido a esforços acima do que conseguiria dar, mas nunca percebeu que o argentino ia baixando de nível físico de jogo para jogo e que os adeptos percebiam isso. Achou que Josué e Licá seriam substitutos à altura para Moutinho e James, nunca questionando a sua valia comparativa. Achou que Quintero era jovem, muito jovem, incapaz de calçar em bom nível durante os noventa minutos, mas incapaz de o trabalhar para que tal fosse possível, apostando num 8 transformado em 10 que só pontualmente chegou a passar da mediocridade. Manteve Varela no onze quando se exigia Ricardo ou Jackson quando Ghilas era mais indicado. Puxou Danilo e Alex Sandro até ao limite das suas forças físicas, para os colocar a jogar de novo a meio da semana. Mas acima de tudo, o que o eliminou foram as derrotas.

Se quisermos apontar para um ponto no tempo em que Fonseca perdeu definitivamente o apoio dos adeptos, aqui está ele:

Mas nós temos meio-campo? E defesa? Ataque, talvez? Foda-se, temos uma equipa?! É uma constante de 2013/2014: o FC Porto parece entrar em campo em inferioridade numérica. Muitas vezes dou por mim a olhar para o relvado e a tentar perceber quem é que falta ali no meio e que está a tornar a equipa numa amálgama de jogadores que andam a correr (nos dias bons) de um lado para o outro sem saber onde serão as posições certas para os jogadores certos. É uma espécie de grande jogo de Mastermind, onde o jogador certo está na posição errada (Fernando com alguém ao lado, Josué na ala, Lucho a segundo avançado…), o jogador errado está na posição certa (Defour quando era preciso Lucho, Otamendi em vez de Maicon…) ou ambos (Licá. Só isso). Há uma extraordinária falta de entrosamento, sequências imensas com passes falhados que nos juvenis daria direito a volta ao campo e vinte flexões só com um braço, desmarcações com força a mais ou a menos mas nunca a força certa e remates ao lado, ao poste ou direitinhos ao guarda-redes. Hoje o FC Porto não jogou futebol. Foi uma equipinha banal que não conseguiu e tampouco tentou mudar a sorte de um jogo que tantos querem jogar e que tão poucos têm a sorte de o conseguir. Fomos fracos, de pernas e de espírito, e esta derrota custa ainda mais porque não a tentamos evitar.

Castro entrou calmo, sem pressão a não ser a manutenção da lenta descida para o tormento que esta época se tinha transformado. Algumas boas exibições mas um cagaço na Luz fez-nos perder a Taça, uma meia-hora absurda em Sevilha fez-nos perder a Liga Europa e uma inepta exibição contra dez fez-nos perder a Taça da Liga em penalties, no Dragão. Fez um bom trabalho nos Bs mas o Princípio de Peter lixou-o nos As.

As notas para os treinadores ficam abaixo:

PAULO FONSECA: BARONI
LUÍS CASTRO: BAÍA (pela época nos Bs)

Nota: por algum truque de tecnologia ou desatenção do autor, o artigo foi erradamente publicado em branco. as minhas desculpas a quem pensou que foi um recurso de estilo em tom de metáfora. não foi. foi mesmo trenguice.

6 comentários

  1. Nem merece texto, de tão óbvio.
    Mesmo perante as más exibições e os maus resultados obtidos, existe algo VERDADEIRAMENTE PIOR, que foi a total falta de crença e a vontade de desistir. Foi uma enorme demonstração de fraqueza.
    Ao contrário de Vítor Pereira, que, mesmo contestado, com más exibições e alguns maus resultados, sempre acreditou no seu trabalho e não quis desistir ao primeiro sinal de contrariedade.

    Quanto a Luís Castro, conseguiu levar a equipa B ao topo da tabela e com mais jovens da formação que na época passada. Houve vários jogadores que se mostraram em bom nível e podiam ter sido melhor aproveitados pela equipa A (Victor Garcia para descansar os laterais é um bom exemplo). Além disso, eu acredito que uns minutos de vez em quando aos melhores da equipa B fazia bem a estes miúdos, de forma a fazê-los acreditar que a equipa A é uma possibilidade, basta fazer por isso.
    E não sei se o Pedro Moreira vai ficar ou não na equipa, mas se ficar, espero que possa estar com a equipa principal na pré-época, pois tem qualidades tácticas que faltam a muitos jogadores da A. Fiquei fã dele.
    Mas continuando com o senhor Luís Castro, na equipa principal conseguiu bons resultados inicialmente mas depois a equipa foi-se abaixo com os insucessos. Não se pode culpá-lo de nada a nível desportivo, pois caiu de para-quedas a meio da batalha. Apenas acho que podia e devia ter apostado mais num ou noutro jogador da equipa B, que ele afinal tão bem conhecia.
    Mas acredito que nesse aspecto haja mais dedo da direcção que do treinador.

    1. não houve texto…porque o meu hosting provider passou-se, mais uma vez! desculpa se achaste que era mais simbólico e estilístico do que de facto sou ;)

      abraços,
      Jorge

      1. Depois de tudo o que já foi escrito ao longo da época, as notas eram uma certeza.
        Realmente, pensando bem, era um pouco estranho ter um blog e não escrever.
        Mas se tivesse de dizer a alguém os pontos positivos desta época, de facto não aparecia nada.
        Ansioso pelas novidades da próxima época.

  2. Caro Jorge,

    Faltou-te escrever “(…) para a direcção da SAD(…)” antes de atribuir a força maior do argumento às derrotas.

    Quanto a mim – e isto torna-se cada vez mais cristalino – um treinador de top não pode andar com “os meninos ao colinho”, isto é, não pode ser “compincha” dos seus jogadores (leia-se subordinados). E nota que não usei a palavra amigo, pois os verdadeiros amigos não são os “friendly guy” mas sim os que te dizem as coisas como elas são.

    Ainda à uns dias Ferguson disse numa entrevista que muitas vezes teve de ser implacável com os seus jogadores. Basta um pequeno périplo pelo youtube para ver que as sessões de treino de Van Gaal não são brincadeira e que ele não tolera desleixos por mínimos que sejam.

    O “erro” de Fonseca foi querer ser “demasiado” próximo dos jogadores e permitir uma cultura de desculpabilização em momentos menos bons – exemplo 1: as palminhas… – e daí até ao fatídico jogo na Luz (eu ainda acreditava mesmo depois da Académica) onde fomos banalizados por uma equipa em nada superior à nossa excepto no facto de jogarem como equipa – foi-se vislumbrando a lenta erosão do Porto Tri-Campeão para um conjunto de rapazes que se encontram todas as semanas para uma joga no parque.

    A perda da “noção” do que deve ser o FC Porto foi tão profunda que até o Lucho aceitou ir jogar para os petro-dólares do que ficar a assistir ao resto da “debacle”. Alguém de bom senso deixa sair o capitão da equipa, o jogador mais inteligente da equipa a meio da temporada? Claro que não. A não ser que isso fosse a condição financeira necessária para trazer Quaresma de volta. No entanto se tiver sido essa a “decisão” só me resta bater “palminhas” a mais um prego no caixão do FC Porto 2013-14.

    A partir do jogo na Luz, foi o calvário da espera até que PF fosse embora. A direcção não o queria deixar cair, aliás tudo fez para o manter, e não fosse eu avesso a teorias da conspiração ainda estaria a pensar se esta época não foi planeada para o fracasso desde o início…

    Quanto a mim o Baroni não é merecido. Primeiro porque dá a sensação de que ele é o grande culpado da má época, o que não sendo mentira, é muito conveniente para os directores da SAD; Segundo porque dá a ideia – errada – que foi algo esporádico, tipo um jogo menos conseguido, quando o que se passou foi um declinio prolongado, uma agonia de meses sem qualquer factor atenuante; Terceiro porque ao atribuir este prémio estamos a perpetuar uma memória que francamente mais valia ser arrumada num canto da mais escura arrecadação do “Warehouse 13” .

    Falta-me adereçar o desempenho do “Professor” substituto Luis Castro. Acho que merece o Baía porque teve a coragem de pegar numa equipa em frangalhos e trazer-lhe algum ânimo, passageiro – sem dúvida – mas real. Foi um “Homem” e apesar da performance geral não ter sido melhor que a do seu antecessor, teve a coragem e o espírito de sacrifício que já não se vê nem no Porto nem no futebol em geral.

    Esperemos que o Julen esteja uns bons furos acima dos treinadores acima citados e que o serviço normal possa ser retomado dentro de poucos instantes…

    Abraços

    O “Professor”

  3. Um pouco au retard , já com o mundial começado, e o primeiro favorecimento perpetrado, venho aqui para assinar por baixo em post e comentários…
    – Quando a época começou bem, perguntei a amigos se quando o inverno chegasse os sérvios não seriam mais úteis que os sul americanos , mas referia-me na altura aos jogadores… percebi depois que era comentário sobre os treinadores também…

    (Para mim a época perdeu-se quando ganhando 1-0 ao Atlético, o gajo mandou sair o Lucho… e o atlético deu a volta… E, aí começou a falta de respeito para com o nosso clube, e a caminhada imparável do Atlético… (para mim uma equipe perfeitamente ao nosso alcance, mas com o tal drive que nós deixamos naquele alcacer quibir…)

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