Ouve lá ó Mister – Paços de Ferreira


Amigo Vítor,

Hoje é o dia. Para todos nós que andamos aqui há trinta jornadas, a torcer pelo clube que é tanto teu como nosso, para todos nós que sofremos na Luz, que nos enervámos em Alvalade, que vibramos em Braga, que desesperamos em Vila do Conde, que entristecemos nos Barreiros, que exultámos na Choupana, que cantámos glórias em Guimarães e que manifestámos todas as emoções de verdadeiros adeptos desde Agosto, Vitor…todos esperámos por este momento. Uns com mais fé, outros com a esperança no chão, pontapeada por inúmeros momentos de emoção sobressaltada por semanas em que alternámos o genial com o absurdo, o brilhante com o ridículo. Foram trinta semanas de futebol intenso, triste, verdadeiro, feliz, encorajador, preocupante…trinta semanas com o coração perto da explosão para que pudéssemos chegar a este momento e dizer que podemos ser campeões com o mérito que poucos nos reconhecem mas que temos de fazer o possível para que seja nosso, para que volte a ser nosso. E tudo depende de noventa miseráveis minutinhos.

Não tenhas a mínima dúvida que todos estaremos do teu lado, Vitor. Todos os portistas, desde o centro da Invicta aos mais distantes confins deste planeta, todos eles estão a torcer por ti e pelos teus. Todos estão, de uma forma ou de outra, em Paços de Ferreira. Todos estarão a ver o jogo de olhos colados na pantalha ou no relvado, que não haja dúvida nenhuma disso, e acredita que portista que se preze estará a assistir ao jogo salvo motivo de força maior. Porque a emoção deste último jogo exige que nos juntemos, em grupo, em coligação de esforços, numa espécie de aura gigantesca que te tenta passar a força dos grandes, dos enormes, dos gigantes. É isso que seremos hoje, Vitor, uma multidão de almas a sofrer por ti, a viver cada segundo como se fosse o último, inclinados para um passe do James ou uma corrida do Varela, a dobrar-se para acertar o passe do Defour ou o remate do Jackson. E todos, mas todos, dependemos de ti.

Faz com que a recta final não tenha curvas. Entra em campo com a mentalidade de um grande, com a vontade de acabar com este jogo antes sequer dele começar. Convence esses teus moços que estão prontos para vencer o jogo e assim trazer os três pontos que precisamos para que rebente de vez a festa, para que exultemos com a alegria que todos merecemos, nós e tu e os teus.

Estarei a ver o jogo em frente a uma televisão que nem quero saber se é grande ou não. Talvez na tua terra, Vitor, tudo depende de algumas combinações de última hora. Talvez, Vitor, talvez te traga sorte por ver o jogo em Espinho. Mas seja lá ou na Invicta ou em Florença ou em Perth, onde quer que veja o jogo…quero ver-te a ganhar e a chorar por mais uma vitória do Porto que é tanto teu como meu. Vamos a isso

Faltam noventa minutos para a glória final. Força.

Sou quem sabes,
Jorge

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Falta um dia

Once more unto the breach, dear friends, once more;
Or close the wall up with our English dead.
In peace there’s nothing so becomes a man
As modest stillness and humility:
But when the blast of war blows in our ears,
Then imitate the action of the tiger;
Stiffen the sinews, summon up the blood,
Disguise fair nature with hard-favour’d rage;
Then lend the eye a terrible aspect;
Let pry through the portage of the head
Like the brass cannon; let the brow o’erwhelm it
As fearfully as doth a galled rock
O’erhang and jutty his confounded base,
Swill’d with the wild and wasteful ocean.
Now set the teeth and stretch the nostril wide,
Hold hard the breath and bend up every spirit
To his full height. On, on, you noblest English.
Whose blood is fet from fathers of war-proof!
Fathers that, like so many Alexanders,
Have in these parts from morn till even fought
And sheathed their swords for lack of argument:
Dishonour not your mothers; now attest
That those whom you call’d fathers did beget you.
Be copy now to men of grosser blood,
And teach them how to war. And you, good yeoman,
Whose limbs were made in England, show us here
The mettle of your pasture; let us swear
That you are worth your breeding; which I doubt not;
For there is none of you so mean and base,
That hath not noble lustre in your eyes.
I see you stand like greyhounds in the slips,
Straining upon the start. The game’s afoot:
Follow your spirit, and upon this charge
Cry ‘God for Harry, England, and Saint George!’

William Shakespeare, Henry V, Act III

Substituamos “Harry” por “Vitor Pereira“, “England” por “FC Porto” e “Saint George” por “adeptos portistas“. O sentimento é que tem de ser o mesmo.

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Hoje estou com pena deles, palavra

E olhem que é algo que me custa. Não me custa por serem quem são, pela inimizade que tantas vezes nos une nos campos da bola. Mas porque ter pena de alguém é um sentimento tão desprezível, tão vazio de esperança e de fé que me faz ter pena de ter pena. E podia continuar, mas opto por ser um poucochinho mais produtivo.

Estive a torcer pelos gajos. É verdade. Desde o início do jogo que me pareceram mais frescos, mais dinâmicos e com mais acerto que a malta do Chelski, confirmando o que pensava ser a mais natural reacção à patada nos dentes que tinham levado aqui no Dragão. Levantaram a cornadura e lá foram para a batalha no/a Arena para arrancar os bifes pelas pernas. Toscos não são porque nunca foram, mas o futebol não era certo, não era perigoso, assustava pelas rápidas trocas de bola a dezenas de metros mas pouco mais. Não foram incisivos, não foram letais, ao contrário dos rapazes do Rafa, que parecia emular aquele Liverpool enojante que defendia com todos que podia e mandava Kuyt e Gerrard para a frente com o Xabi Alonso de tempos mais ofensivos a patrulhar o centro. E não marcando, sofreram. E marcando, sofreram de novo. Aos noventa e picos. Outra vez.

Se o Benfica que veio ao Dragão no passado sábado mereceu perder porque jogou de forma a que tal não acontecesse, este que hoje correu e suou em Amsterdão merecia outra sorte. Nem que fossem a penalties, mas mereciam outra sorte. Sim, é verdade que pouco perigo criaram e que o Chelsea apareceu duas vezes na área e imediatamente pôs Artur a rezar à virgem. Mas ainda assim, não mereciam perder de uma forma tão sádica e infeliz.

Não sou adepto do Benfica, acho que é um facto bem estabelecido. Mas hoje consegui ver-me a torcer por eles, um pouco pelo patriotismo parolo que ainda vive dentro de mim, outro pedaço por solidariedade familiar, mas em grande parte porque me vi ali naquelas bancadas, aqui há dois anos em Dublin. E sei o que se sente um adepto que vê a sua equipa a chegar a uma final europeia, a presenciar ao vivo um momento de História para si, para o seu clube, para a sua vida. E sei o que é partilhar dessa emoção, do nervoso semi-alcoolizado de quem sabe que a outra equipa e os outros adeptos estão a sentir o mesmo.

E como Basileia teve lugar numa altura em que não distinguia os cueiros de uma toalha de linho, felizmente não sei o que é perder um jogo desses. Muito menos desta maneira. Fica um abraço de solidariedade para com os adeptos que conheço e que nesta altura estão num poço bem, bem, bem lá no fundo. É tramado, não tenho dúvida. E ainda vai ser mais tramado, espero, levar a estocada final no Domingo. Só não lamento afirmar que, se tudo correr bem, na altura quem vai fazer a festa sou eu. I hope.

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