Com o crescimento do mercado brasileiro explicado neste artigo do FutebolFinance.com podemos ter uma noção mais correcta do porquê de não conseguirmos comprar jogadores com algum nível de estabelecimento no futebol doméstico dos nossos putativos irmãos. Parece-me óbvio, através da simples análise dos valores de entrada de capital para os clubes brasileiros, constatar que um jogador que atinge algum nível de notoriedade no próprio campeonato, somando-se uma eventual chamada à Selecção nas camadas jovens ou mesmo na principal, dificilmente quererá dar o salto quando o estatuto que adquiriu já lhe permite ter uma vida diferente daquela que conseguia aqui há uns anos.
E em relação aos clubes ainda é pior, porque se até bem pouco tempo atrás se conseguiam trazer dois ou três contentores de jogadores razoáveis onde se podia encontrar uma pérola de vez em quando (como os franceses fizeram e continuam a fazer das ex-colónias em África), hoje em dia a realidade é mais complicada. Convencer um clube de topo a ceder um dos seus principais jogadores exige capacidade negocial, conversas absurdamente extensas com agentes e fundos de investimento e acima de tudo dinheiro vivo em cima da mesa.
A solução? Trazê-los jovens. Procurar cada vez mais cedo encontrar uma futura mais-valia (como Kelvin se espera que seja) e apostar na qualidade para evitar gastar uma Torre dos Clérigos de moedas de cada vez que um jogador dá nas vistas. Danilo e Alex Sandro podem ter mostrado que o investimento é seguro mas o retorno pode não ser imediato apesar das suas qualidades terem sido enaltecidas por trinta e quatro mil jornalistas. E quando há uma lesão grave…chora-se o dinheiro que se gastou e espera-se por melhores momentos.
É muito difícil gerir um clube com o grau de exigência do nosso num mercado em constante mutação, não tenho a mais pequena dúvida.
O problema é que aqui em Portugal, (ainda) pensam que os 12 primeiros da lista são clubes menores que os 3 grandes, quando na realidade, são bem maiores e com muito mais adeptos.
E dos clubes abaixo do 13º lugar, 4 já foram campeões do Brasil(Bahia, Atl Paranaense, Coritiba e Guarani), e em boa fase, levam pelo menos 20 mil ao estádio.
Com o renascimento da economia, os clubes começaram a cobrar mais das TVs, pois estas tem uma mina de ouro nas mãos, e arriscaram a manter os craques e repatriar europeus de luxo, como Deco, Fred, Ronaldinho ou Luís Fabiano, entre outros.
Por exemplo, num jogo do Flamengo ou Corínthians, clubes com pelo menos 30 milhões de adeptos cada um, dá pra imaginar a audiencia televisiva, assim como num jogo entre Fluminense e Vasco da Gama, clubes com pelo menos 10 milhões de torcedores cada.
O Bahia e o Vitória, clubes da cidade de Salvador da Bahia, quando se enfrentam, a rivalidade é igual a um FCP-5LBarbies, assim como o Sport Recife quando joga com o Santa Cruz ou o Náutico, nos derbys da cidade do Recife.Há 2 meses salvo erro, no jogo decisivo de acesso à série C(3ª divisão) do Brasileirão, o Santa Cruz colocou em seu estádio, o Arruda, 60 mil pagantes.
Por isso é que os clubes brasileiros estão (re)descobrindo a força que tem, e que andava meio abanada, e num campeonato extremamente competitivo, onde em 20 clubes, 12 tem chances de ganhar o título, há que reforçar os plantéis.
Mas ainda falta um item determinante para que os clubes brasileiros sejam mesmo fortes como eram até os 80’s: treinadores atualizados e organização.
Falo pelo meu clube, o Fluminense, que tem no plantel Diego Cavalieri(guarda-redes ex Liverpool), Deco, Fred ex-Lyon, Rafaél Sóbis, Rafael Moura, Thiago Neves, e outros menos famosos na europa, que foi campeão brasileiro em 2010, mas com nosso atual treinador Abel Braga, não consegue fazer exibições convincentes com um elenco destes.
Depois volto ao assunto.Bom carnaval
Mas, não é só isso. Não é só a televisão. Nem só os 190 milhões de brasileiros. Os bancos têm investido muito. Não só no futebol, como se sabe: tem o Arena HSBC , é o Banco do Brasil no vólei, etc, etc… para além dos fundos de investimento.
Então os jogadores agora não precisam mais de ir para a europa para ganhar salários milionários e como gostam mais do espírito local, como no caso do Adriano ou do Vágner Love ou do Ronaldinho, que além de futebol são eles mesmo uma escola de samba…
Continuando, até o início da década de 80, os grandes craques brasileiros como Rivelino, Zico, Falcão, Sócrates, Cerezzo, Júnior entre outros, eram formados e faziam carreira no clube, e com isso, na época pós-Pelé, havia muito equilíbrio entre as grandes potencias do futebol brasileiro.
O Santos de Pelé nos 60’s foi a excessão, pois ganhou 6 campeonatos brasileiros em 10 possíveis, jogando contra as outras 12 equipas, que na época, também eram recheadas de craques, como Garrincha, Nilton Santos, Ademir da Guia, Tostão, Jairzinho, Gérson, Félix, que nesta mesma década deram 2 mundiais FIFA ao Brasil, tantos eram os craques abundantes.
E os que ficavam de fora das convocatórias eram tão bons como os convocados, às vezes até injustiçados.
E o Brasileirão continua a ser o mais difícil dos campeonatos, o único no mundo onde existem pelo menos 12(os 12 primeiros da lista) candidatos reais ao título, sem contar com out-siders que ás vezes surpreendem, como o Bahia em 1988, o Guarani em 1978 ou o Coritiba em 1985.
E a razão pela qual é mais difícil, é que cada candidato ao título tem que disputar pelo menos 22 clássicos(jogos entre estes 12 clubes são considerados clássicos nacionais, briga de cachorro grande como dizia um comentador da rádio Globo), 11 em casa, 11 fora de casa.
E se a economia continuar assim, é provável que daqui há alguns anos, os clubes brasileiros sigam o exemplo do River Plate, e comecem a contratar estrelas européias, mas fosse eu, trazia em 1º lugar treinadores europeus.
Dentro desta linha, já vimos como foi o caso Danilo/Fucile, onde o presidente santista fez “jogo duro”, quando em outras épocas, nem sequer se atrevia a colocar qualquer obstáculo nas negociatas.
Mas, apesar desta época atribulada do nosso FCP, confio plenamente no NGP, que se está quieto e calado, por alguma razão será, e quando for a hora, ele aparece.
Eu como brasileiro, espero que o brasileirão regresse à minha infancia, com as equipas cheias de craques, como “tricolor”, espero que Deco comande o meu clube ao título que falta no palmarés, a Libertadores, e como portista, espero que o FCP regresse aos tempos em que da “cantera” saíam Jorge Costa, Paulinho Santos, Baía, Bruno, Carvalho, João Pinto, Gomes…sem descuidar das contratações cirúrgicas e precisas, aos coelhos da cartola que PdC nos habituou.
Só isso.Abraço.
excelente argumentação, muito obrigado! e concordo contigo, é isso que temos de continuar a fazer para evitar cair em erros que nos podem ser ainda mais caros que o que vem no recibo de compra.
um abraço,
Jorge
Entre amigos costumo comentar que o Brasileirão é uma especie de mini-NBA!