Tenho uma passadeira em casa. Daquelas que as pessoas põem na cozinha para não escorregarem com salpicos de óleo ou vinho foleiro e que tem sempre um ar de terem sido feitas de desperdícios encontradas no chão de uma oficina de mecânicos. E a passadeira é prática, razoavelmente limpa e simples. Não emana charme, não dá bom aspecto à sala e parece ainda mais foleira quando vista à luz do luar que entra pela janela da lavandaria. Não gosto da passadeira. É uma merda aquela passadeira. Apetece-me mudar a passadeira. A passadeira, no fundo, faz o trabalho para que está desenhada. Mas não mais que isso. Não me entusiasma, não me faz querer entrar na divisão onde permanece e ficar a olhar para ela durante noventa minutos e só me apetece pegar na passadeira e mudar de passadeira. Acima de tudo, apetece-me deixar de dizer “passadeira”. Enfim. Vamos a notas:
(+) O regresso de Sapunaru Absolut Sapunaru is back, y’all! Admito que me dá uma certa nostalgia ver o romeno no lado direito da nossa defesa, com memórias de Dublin a virem rapidamente ao de cima. Não é um génio táctico e acaba por falhar várias aproximações técnicas ao adversário que lhe aparece pela frente mas normalmente acaba por compensar a falha com inteligência. Mas as subidas no terreno parecem mais fáceis, as incursões pela lateral são mais intuitivas que com Maicon que é esforçado mas falta-lhe a notória impulsividade que um lateral tem e um central acaba sempre por ter em falta. Acima de tudo é uma boa notícia perceber que está de volta e mesmo a tempo de substituir Danilo para o jogo contra o Benfica. Em alternativa pode ser que rebente os joelhos ao Nasri na quarta-feira, só para mostrar quem é que manda. É menino para isso.
(+) João Moutinho Esteve bem hoje, mesmo jogando ao lado de Fernando. Os passes saíam quase sempre simples e práticos muito embora os colegas conseguissem estragar quase sempre a jogada que o João começava com inteligência e tranquilidade. É diferente vê-lo a começar a construção ofensiva tão recuado no terreno e a ter de percorrer tanta relva para chegar a uma posição em que possa ajudar na finalização, mas a verdade é que consegue e serve como apoio defensivo quando a equipa está tradicionalmente com 3 jogadores atrás da linha da bola. Gostei de o ver e saiu na altura certa para descansar.
(+) O primeiro golo Simples. Simples. Simples. Custa muito?
(+) O golo de Fernando Já merecia um golinho o nosso Nandinho. E o golo foi mostra de excelente entendimento e da maneira como Fernando também sabe subir no terreno depois de recuperar uma bola a meio-campo. Se fizesse este tipo de rupturas mais algumas vezes e marcasse mais golos…provavelmente não tinha estado hoje no Bonfim a jogar pelo FC Porto.
(-) Passividade Otamendi tenta fintar três adversários à saída da própria grande-área, perde a bola e faz falta que dá um livre potencialmente perigoso; Alex Sandro protege a bola com a força de um kiwi maduro e a bola é-lhe tirada várias vezes por Targino ou qualquer um dos outros jogadores execráveis do Setúbal (é curioso que de quatro defesas consigo detestar três: Miguelito, Ney e Ricardo Silva); Lucho tropeça no meio-campo em trocas de bola num espaço de quatro metros quadrados; Rolando pontapeia bolas para o ar como se estivesse na Praça da República e tivesse uma aversão a pombos; Varela controla a bola com todas as partes do corpo menos os pés e perde-a na jogada seguinte para duas marmotas e um setubalense; Hulk…finta e perde, finta e perde, finta, cai e perde. A passividade que vi hoje no FC Porto tem dois motivos óbvios: o jogo na quarta-feira contra o Manchester e o cansaço do jogo da passada quinta-feira. Mas o motivo principal não é esse. É o alheamento do jogo, o desinteresse da competição, a falta de vontade de jogar. “Going through the motions”, como dizem os angleses. E é estupidamente frustrante.
(-) Arbitragem Um escroto, este Paulo Baptista. Se conseguíssemos juntar num árbitro tudo que há de mau de todos os árbitros portugueses, teria a arrogância de Proença, a falta de visão de Lucílio, a cara de parvo do Bruno Paixão e a capacidade de apitar a todos os lances onde há um mínimo de contacto entre os jogadores. É evidente que os rapazes que estão na relva não se mostram preocupados quando se sentem pressionados porque sabem que se gritarem bem alto e caírem para o chão, nem precisam de simular que foram agredidos por um disco de ferro no funny-bone para que a bestinha marque falta. E hoje foi mais um desses anormais que apareceu em Setúbal com licença para apitar. Esqueçam os foras-de-jogo mal marcados e as tecnologias para ver se a bola entrou na baliza ou não. Estas arbitragens é que estão a matar o jogo em Portugal.
Das poucas vantagens que tirei do jogo foi o facto de não ter ouvido os comentários na segunda parte do jogo. Passei o tempo a correr na passadeira lá de casa (uma passadeira diferente da de cima) e o constante zusssh causado pelos tradicionais 12 km/h a que zarpava pelo tapete…talvez fossem 10…ou 8…e aproveitei para multi-tascar durante quarenta e cinco dos noventa minutos de gigantesco bocejo no Bonfim. Já sei que estes jogos entre competições europeias não podem ser vistos à mesma luz que a maior parte dos outros, mas depois de uma noite como a da passada quinta-feira estava a precisar de uma injecção de alegria futebolística pelos moçoilos que defendem as cores da minha equipa. Não a tive. E temo que na próxima quarta, em Manchester, também não a vá receber.
Jorge. Acho que o Varela até não esteve mal! Foi esforçado (vi-o algumas vezes a ajudar a defesa) e aguentou o jogo todo! Pelo menos esteve melhor que o Hulk.
Caro Jorge,
Eu também temo que não.
Boa análise e bom post.
O Hulk esteve um pouco melhor. Pelo menos fez alguns passes.
Continuamos muito fracos e não parece que vá melhorar por aí além.
Gostei de ver o Sapunaru de volta e não percebi porque saiu o Maicon da defesa (centro).
Em 30 anos a ver o FCP nunca tinha visto:
– uma indefinição tão grande na dupla de centrais.
– um futebol tão bipolar. Capaz do melhor e pior de jogo para jogo e até no mesmo jogo. O jogo com o City foi uma verdadeira aberração.
Uma nota para a estreia na liga da 2ª contratação mais cara da época e talvez no top ten de sempre do FCP, o Alex Sandro.
Acho que tem bola nos pés e parece ter cabeça. Também me irritaram as perdas nas disputas, mas pode bem melhorar esse aspecto. Mas o passe que fez para o cebola dar para o 3º golo, isso não se treina.
Por muito que me custe dar tanto dinheiro por um lateral, é bem melhor do que andar todos os anos a comprar merdelins.
Defesas Esquerdos após 2004 (Nuno Valente): Areias, Ricardo Costa (eu sei que é central mas tivemos que levar com ele muitas vezes ali), Leandro, César Peixoto, Mareque, Cech, Ezequias, Lino, Benitez, Addy, Emídio Rafael.
São 11, mas todos juntos não valem meio Álvaro Pereira ou Nuno Valente ou Fernando Mendes ou Rui Jorge ou Branco ou Inácio.
Saudações Portistas,
PELIFE
Bom dia,
Cumprimos o objectivo que era a vitória.
Ter marcado cedo, permitiu gerir o jogo, que por vezes mais parecia um treino, tão baixo era o ritmo.
Para portista ver, não foi um jogo agradável, mas vencemos com toda a justiça, e continuamos na luta pelo título.
Hulk mais uma vez desiludiu. Muito trapalhão, individualista e sem poder de arranque, definitivamente a lesão afectou o seu ritmo de jogo.
Grande jogo de Sapunaru, que ontem confirmou que o treinador pode e deve contar com ele.
Alex Sandro teve uma estreia tranquila, embora lhe falte entrosamento com a equipa.
Fernando o melhor elemento do FC Porto de à uns jogos para cá, está a realizar uma excelente época.
Varela e Janko no ataque fizeram uma excelente partida.
No meio campo Moutinho e Lucho são o motor da equipa, e só é pena Lucho ainda apresentar algumas debilidades físicas.
Vamos continuar, até onde for possível, a acreditar que podemos dar a volta à classificação.
Abraço e boa semana
Paulo
eu confesso que não vi o jogo. nesta terra de degredo, são dias de carnaval, e quem não salta, é lampião, ou pior…
como sempre gostei do texto, das marmotas e dos pombos… não gosto é de ver o seu desânimo. Sempre há qualquer coisa que se pode fazer com a passadeira para a tornar mais atrativa: pintá-la à la jackson pollock e vendê-la no ebay; enrolá-la, apertá-la e fazer um banquinho; sei lá…
problema de português. somos assim. sempre à espera que algo de fora nos entusiasme para depois ficarmos agradecidos à felicidade. Nope.
Quem tem culpa de ter de jogar com o setúbal, duas vezes em 15 dias e entre os jogos com o City?
eu vou acalentar o sonho… se tivesse um blogue – ainda bem que não tenho, pensa a maioria! – daqui até ao jogo seria só relembrar jogos de transcendência e pedir aos gajos que desfrutem o jogo. Que joguem sem o compromisso do milagre; joguem pelo amor à bola, pela satisfação de poderem encontrar pela frente quem a saiba manipular…
PS: voltei a ver os jogadores todos unidos nos festejos. gosto.
A 2ª parte foi uma enorme seca, até deu para ir jogando Uno, damas e jogo do galo com a minha filha.
O jogo acabou por ser um passeio a beira do Sado e uma péssima demonstração de qualidade futebolística do FCP contra a pior equipa da liga, é frustrante ver o FCP com uma equipa que custa 100 milhões fazer isto domingo após domingo.
Acho que Janko esta a encaixar bem na equipa e tem trazido aquilo que faltava, Golos !!! Sempre que marca não resisto a perguntar ao Kleber se aprendeu, mas sei que o Kleber não foi contratado para ser titular já esta época por isso temos que lhe dar um desconto e esperar que cresça como jogador e ponta de lança.
Não consigo compreender a passividade dos nossos jogadores, e a falta de agressividade na defesa, especialmente no jogo aéreo. Se jogarem assim na 4ª e mostrarem esta falta de agressividade temo que vá ser outra humilhação como contra o Arsenal.
Esta época já não espero muito (ainda tenho esperança de ser campeão ) mas espero que já se esteja a preparar a próxima época. Na 4ª gostaria de ver uma vitória por 2-0 do FCP, já não peço ma exibição brilhante só mais garra.
Triunfo justo, claro e sereno num jogo onde a qualidade técnica esteve quase sempre ausente. Como gosto de bom futebol não gostei do jogo e não compreendo que nesta altura da época, a equipa com o maior orçamento do campeonato se permita oferecer este tipo de espectáculo.
Para quando dois ou três jogos seguidos com índices técnicos à altura de um verdadeiro campeão?
Começo a desesperar!
Um abraço
Fui ao Bonfim ver o jogo e pela primeira vez na vida fui à bola sozinho (achei que não podia perder a oportunidade de ver o meu Porto jogar perto de casa só porque não tinha companhia). Mas de facto foi de lamentar não ter com quem conversar durante a segunda parte do jogo de ontem, mais os 20m que a PSP nos manteve cativos no final. Que grande bocejo…
Valeu pela entrada forte, pelo golo de fernando e pela estreia do alex.
Cumprimentos Azuis e Brancos da Caparica
e qual é o mal em ir à bola sozinho? gosto de ter alguém para mandar as minhas bocas, mas não me incomoda nada ir ver o jogo só com os meus pensamentos :)
É certo… mas acho que prefiro com companhia.
Parece que também valeu pela aproximação ao topo =D