Posso dizer que sou uma pessoa resignada. Contento-me com pouco quando comparado com muitos outros, que anseiam por grandes emoções e aventuras, vida de rico, fama e seiscentas mulheres a untarem-lhes o poste por turnos. Mas o que tenho é muito bom e gosto do que tenho. Sou feliz com o que tenho. E quando vou ao Dragão para ver um jogo do FC Porto, gosto de sair de lá a pensar: “Ah, mas que belo espectáculo que presenciei. Sou um felizardo!”. E lá, pelo menos lá, não me resigno a pouco. Grito, incentivo, aplaudo, sofro, gemo, salto. Só há um problema que normalmente atira com alcatrão para a minha salada de frutas: quando vejo que os jogadores não estão com o mesmo espírito, fico frustrado. Quando os vejo tristes, nervosos, sem confiança, sem força, sem inteligência, só me apetece saltar lá para dentro, abaná-los e dizer-lhes ao ouvido: “Ouve lá, mas tu não sabes o que vales? Não percebes o talento que tens? Corre, caralho, corre!!!”. E pronto. Hoje foi um desses dias. Siga para as notas:
(+) Maicon Foi o melhor em campo com alguma margem de distância para os colegas. Sóbrio na defesa, rápido na intercepção e forte no contacto físico com a bisarma que veio da Feira para a relva do Dragão. Acaba por ser notável perceber que Maicon parece mais inteligente que Rolando quando tem a bola nos pés, é mais preciso nos passes longos e joga com uma aparente calma que deveria contagiar os colegas e impedir a estupidez em que muitos insistem em mostrar a toda a gente. O golo (que eu adivinhei num momento de raríssima presciência) acabou por mostrar que Maicon é sem dúvida o homem mais perigoso do FC Porto nas bolas aéreas, mais até que Janko.
(+) As substituições na segunda parte Vitor Pereira esteve bem no banco. Não sei o que se passou ao intervalo mas a equipa pareceu mais viva, com mais fé e mais interesse em conseguir o golo que limpasse a imagem dos primeiros 45 minutos. E a forma como mexeu na equipa foi simples, prática, sem invenções, sem alterações tácticas profundas e apenas com bom senso, gestão de esforço e objectivos práticos. Precisamos de explorar o flanco e aproveitar a superioridade numérica? Sai Sapu e entra Djalma. Moutinho estava estourado? Sai, entra Defour. Simples. Fácil. Produtivo.
(+) Paulo Lopes Só me urge fazer uma pergunta: há algum cientista louco num castelo abandonado que numa noite de tempestade tenha inventado uma espécie de íman para couro? Parafraseando Queiroz: “E se fosses defender para a c*** da tua mãe?”.
(-) O cagaço Compreendo que estejam cansados, nervosos, ansiosos. A pressão aumenta e se havia pouca margem para falhas antes do Benfica deitar cinco pontos pela janela fora, agora então há uma espécie de limbo com navalhas por baixo do qual todos os jogadores querem passar incólumes. Ninguém queria tomar as decisões difíceis, todos passavam a bola para o lado e para trás, para o lado e para trás…até chegar a Helton. A sensação que passava para o público era simples e evidente: nenhum jogador do FC Porto queria ganhar o jogo. O medo era tal que os passes de ruptura nunca surgiam mesmo quando o nosso pobre defesa direito romeno aparecia a voar pelo flanco pronto para receber a bola e cruzar para a área. Hulk não rematava e só passava (mal). Moutinho não passava, ponto. Lucho fazia tabelinhas para o mesmo jogador e para trás. Álvaro, distraído e sem vontade de arriscar, chegava ao meio-campo e parava. Uma severa falta daquela positiva arrogância de campeão entorpeceu-nos as pernas, matou-nos o espírito e enervou os adeptos. Os jogadores do FC Porto insistem em não arrastar os adeptos para perto deles. Gostava muito que me explicassem porquê.
(-) James versus Djalma Quando James entrou em campo o jogo estava ainda a arrancar. Varela acabava de sair lesionado e não havia necessidade de alterar o esquema táctico por isso o colombiano parecia a escolha óbvia. E James entrou lento, pachorrento, distraído, sem força, sem garra. Ao nível dos colegas, portanto. “Mas, Jorge, como podes dizer isso se o homem esteve nos dois lances dos golos? Estás a ser injusto!”. Não estou nada. James foi uma nódoa no jogo todo e se o cruzamento para o primeiro golo é bom, o segundo golo é uma parvoíce de um falhanço que não se admite e teve um choureco monumental em ter marcado golo nesse lance. O resto do jogo foi uma sequência de bolas perdidas, passes maus e falhas de concentração. Djalma, pelo contrário, entrou com força, com garra, vivo, mexido, com vontade de jogar e de mostrar serviço. É mais fraco, menos talentoso e mais trapalhão que James. Mas neste momento da época dá mais jeito ter Djalmas que James. Pelo menos naquele estado. Aceitam-se comentários contraditórios, como é evidente.
(-) A lesão de Varela É óbvio que não vou bater no moço por se ter lesionado. Não sou sádico a esse ponto. Mas o que não admito é que o jogador seja tolo ao ponto de se manter em campo e deslocar-se a passo de um caracol paraplégico a caminho do banco de suplentes com o jogo a decorrer. Não aguenta, senta-se, cai, grita, pede assistência. Mas depois de 15 minutos em que só fez trampa em campo, aquela atitude deixou-me possuído. Dito isto, as melhoras, Silvestre. E livra-te de fazeres outra do género.
Vinte jornadas decorridas e estamos de novo na luta. O último terço do campeonato vai-nos espremer o plantel até ao tutaninho e todos os jogadores precisam de estar no topo de forma para conseguirmos alguns dos objectivos que ainda estão ao nosso alcance. Ou seja, dois. E na sexta-feira podemos acabar com um dos objectivos antes sequer de começar a pensar no outro. Com a moral dos jogadores no fundo de um poço e os níveis de confiança ao nível de um geek no primeiro dia de liceu num bairro de mânfios…vai ser um jogo difícil. Oh se vai. Venha ele.
Concordo totalmente com a análise ao James. Além do mais, nunca estava no flanco, antes derivando constantemente para o meio, deixando a ala esquerda despovoada e povoando o miolo do terreno com excesso de jogadores. Fiquei sem perceber de isto resultava de ordens do treinador ou se foi decisão da própria cabecinha do James…
Por último, uma palavra aos adeptos assobiadores. Se querem assobiar a equipa esperem pelo fim do jogo. Já não há paciência para os punheteiros precoces que ao primeiro passe falhado começam a assobiar. Pegando nas palavras do dono desta casa, vão assobiar para a c*** da mãe deles!
Não sei até que ponto dava um Baroni ao Janko.
Teve algumas perdidas que nem o Kléber, meuz amigoz… então aquela em que está a 2 metros da baliza e é só cabecear para baixo, ui, essa fez-me repensar a imagem que começava a ter dele!
Bom dia,
Ontem poderíamos ter deitado tudo a perder na primeira parte, não pelo jogo produzido pelo Feirense, mas sim pela ansiedade e falta de sorte na finalização.
Entramos muito ansiosos, sem criatividade, e com o Feirense a defender e a trocar bem a bola, gerou-se a impaciência dentro e fora de campo.
Apesar da má primeira parte, a figura da noite por parte dos forasteiros Paulo Lopes negou nos a vantagem mínima ao intervalo.
Não se compreende o porquê de VP não colocar James de início.
Nos jogos diante de adversários que recuam muito as linhas, o colombiano tem capacidade para romper, e pela sua velocidade e criatividade pode marcar a diferença, tal como ontem fez a partir do momento que entra em campo.
Na segunda parte entramos agressivos e com uma dinâmica pelas alas que permitiu abrir a defesa contrária.
Enquanto que na primeira parte corríamos com a bola, na segunda metade fizemos a bola correr, o que torna o jogo mais rápido e imprevisível para quem defende.
Obtivemos a oportunidade do penalti, mas mais uma vez Hulk, tal como em Olhão, falha um penalti numa fase do jogo que poderia ser decisiva.
Felizmente a nossa equipa não baixou os braços e continuou na procura da vantagem e acabou por consegui-la de bola parada por Maicon, o nosso defesa com maiores níveis de confiança.
O segundo golo depois surge com naturalidade face ao nosso domínio atacante.
Paulo Lopes impediu que o Feirense saísse goleado do Dragão, efectuando um punhado de grandes defesas.
Valeram os 3 pts que nos dão a parceria na liderança com o Benfica, e na próxima jornada diante deste mesmo adversário, teremos uma grande oportunidade de definitivamente isolar-nos na liderança da liga a nove jornadas do final.
Assim acredito e espero.
Abraço e boa semana
Paulo
Mais um jogo de um Porto de duas faces, como já vem sendo hábito. O primeiro de futebol pastoso, pausado e inconsequente. Ainda assim, com duas ou três boas oportunidades falhadas pela pouca acutilância dos rematadores portista e o brilhantismo do guardião Feirense.
O segundo (da segunda parte)já mais próximo de uma equipa com ambições. Futebol mais incisivo, esclarecido e perigoso. As oportunidades sucederam-se em catadupa e os golos apareceram inevitavelmente.
Custa a perceber este tipo de exibições. Os jogadores têm classe, são capazes de ultrapassar quaisquer obstáculos, mas a auto-confiança parece funcionar intermitentemente. Dá a ideia que o treinador não lhes consegue insuflar a dose certa de força anímica.
O Campeonato começa a caminhar para o seu epílogo, altura em que vai ser necessário, mais que nunca, essa força.
Um abraço
Bom, primeiro concordo com a análise. Depois gostaria só de referir, que um jogo como o de 4ªfeira não se atira para trás das costas assim num ápice. Para além do Feirense ter sido impecável no que toca aos aspetos defensivos no primeiro tempo, por não deixaram jogar nem o Hulk, nem o Janko, por exemplo, a verdade é que os moços estavam cansados físicamente, também.
Nestes jogos já se sabe que temos de sofrer até entrar o primeiro golo, e – ontem aconteceu uma coisa fantástica – não sofremos nenhum golo com as parvoíces!… (Poderíamos ter ido para o intervalo com pelo menos um dentro. )
Quanto ao resto, agora que o Maicon foi o melhor em campo, e foi mesmo, vale dizer que o VP parece ter insistido no cavalo certo…
Quanto ao que dizes sobre o James e o Djalma cem porcento de acordo. Apenas que o Varela ainda faz menos. Muito mau. E também mau está o Palito.
Quanto ao resto, só peço que o Hulk esteja de novo em dia sim lá no galinheiro e que o Janko não fique só pelos comentários no twitter. (que aliás adoro! Já precisávamos de um instigador assim…)
Afinal, a equipe tem-se dedicado aos jogos mais difíceis com algum esforço.
Viva,
Este Porto parece um daqueles vilões de filmes de terror que lhe é passada inúmeras vezes a certidão de óbito mas consegue abrir o olhinho e matar mais uns não sei quantos adolescentes.
Bem depois desta alusão ao cinema fantástico não iria tão longe a apelidar esta equipa de Fantasporto mas temos o campeonato ainda em aberto, o que depois de todos estes peripécias parece fantástico.
Quanto ao jogo e à crónica em si parece-me interessante a reflexão sobre o James/Djalma (já nem falo do que o treinador ouvia quando apostava em Djalma) mas será mesmo o Djalma mais importante do que o James?
O James não jogou nada, falhou aquele golo oferecido pelo Hulk e fartou-se de perder bolas no meio-campo. Por outro lado, fez o passe a desmarcar Janko, momento que abriu o jogo a nosso favor, fez o cruzamento para o primeiro golo e marcou o segundo, com sorte mas esses também contam.
Ora, o que será mais importante ter um jogador certinho e esforçado ou um jogador errático mas capaz de decidir um jogo a qualquer altura?
Abraço
PS: A ganhar 2-0 o porto deixou de jogar futebol, fosse o Mourinho a crítica teria escrito maravilhas, como ele consegue colocar a equipa a descansar com bola, como é o VP dizem que é pouco ambicioso.
Boas,
Boa análise Jorge. Foi de facto daqueles jogos em que se sofre e em que nos irritamos.
Mas ao fim de poucos minutos da segunda parte, fiquei relativamente descansado. O volume de ataques com perigo era tal que o Feirense não iria conseguir aguentar muito tempo sem levar uma batata.
Discordo na análise Djalma/James.
O James perdeu muitas bolas e precisa de levar na cabeça e, se calhar, o banco é para ver se ele abre mais os olhos e não é tão displicente.
Dito isto, a diferença é abismal. Mesmo com o jogo fraco que fez (todos concordamos) criou mais de que o Varela e o Hulk juntos em 3 jogos.
Para além do referido pelo CRG, lembro-me ainda de um centro fantástico para falhanço brutal do Janko, assim como mudanças de flanco
Mesmo a jogar mal tira 3 centros que o Varela ou o Djalma só fazem de 10 em 10 jogos.
Continuo a gostar do Janko.
Saudações portistas.
PELIFE
O Varela anda uma autêntica sombra do que foi, é difícil perceber o que se passa com o homem. Ainda assim, agora que o James fez o jogo que fez (e concordo com a tua análise, foi mau), talvez percebam que ter um extremo como o Varela ou o Djalma em campo ou ter um médio ofensivo como o James que de vez em quando vem à ala é muito diferente. Especialmente quando os outros defendem com um monte de gente e congestionam o meio-campo.
Jorge o tenho de voltar a insistir o James é mais jogador do que os outros alas juntos… prefiro a classe dele a passo do que todos os outros a correr como tonhinhos. Futebol não é atletismo.
Hulk foi mais uma vez uma nódoa, e parece que nunca está em sintonia na dinâmica ofensiva com o resto da equipa.
A primeira parte é francamente vergonhosa. Não há desculpa, e o jogo a meio da semana é a mais fraca desculpa que eu consigo ouvir.
Lucho tão próximo de Janko é inaceitável, continuo a não perceber aquele triângulo do meio-campo, o Porto funciona muito mais quando Lucho recua e quando Moutinho sobe, Vítor Pereira insiste a jogar desse modo. Eu continuo a não perceber…
Se não soubesse como ia o nosso campeonato e me dissessem que aquela equipa do Porto está em primeiro eu dizia que está tudo tolo… mas como sei, se ganhar este campeonato dará-me um gozo do caraças e gozarei eternamente com a treta do Jesus!