A extraordinária notícia sobre o facto do treinador do Bétis ser romancista nas horas vagas deixou-me a pensar. Apesar de não estar ao alcance de todos os treinadores que já passaram pelo FC Porto, seja por deficitário domínio do Português falado e escrito ou simplesmente por falta de interesse, fica uma sugestão de alguns livros que podiam perfeitamente ter saído da pena de muito técnico e ex-técnico portista, baseados nas suas próprias experiências:
José Maria Pedroto
Foundation (Isaac Asimov)
Hari Seldon é um visionário que consegue prever o futuro tendo em conta padrões de comportamento do passado do ser humano. O sábio Seldon é um homem que aparece numa altura decadente e consegue lançar a Humanidade num caminho vitorioso para evitar o fracasso que levaria à extinção após quinhentos anos, arrastando consigo uma legião de seguidores e de futuros líderes da raça humana, deixando-lhes ensinamentos que os irá guiar na demanda da melhoria constante dos métodos através dos quais o Homem pode ser verdadeiramente resiliente. Seldon, exilado quando os poderes vigentes percebem o seu génio e imenso talento, consegue transformar a forma das pessoas pensarem e viverem depois do degredo forçado e do glorioso regresso.
Sir Bobby Robson
Dune (Frank Herbert)
O Duque Leto Atreides transmite os seus ensinamentos ao filho Paul, para que ele um dia num futuro próximo seja digno de controlar os destinos da sua nobre Casa. A nobreza do Duque, aliada aos anos de conhecimento adquirido, sabedoria empírica e grandes conquistas, leva a que seja venerado e adorado entre os seus pares e temido pelos seus inimigos. É conhecida a capacidade de impôr a ordem pela justiça e pelo julgamento correcto e punição adequada daqueles que não seguem as normas estabelecidas pelo regente e todas estas lições são passadas para o seu jovem rebento que avidamente aprende com o pai para lhe suceder com dignidade e firmeza.
José Mourinho
Dune Messiah (Frank Herbert)
Após a subida de Paul Atreides ao poder, a arrogância provocada pela sua quase omnisciência transforma o reinado num império teocrático e acaba por tomar controlo da sua personalidade, levando-o a assumir-se como líder incontestável perante os seus pares, apesar de perder contacto com a realidade do povo que governa com mão de aço. Acaba com Paul, o Messias dos Fremen, a ser contestado pelo próprio povo que salvou e alvo de diversas conspirações para o retirar do poder recorrendo a várias tentativas de assassinato tanto a ele como aos seus filhos, uma das quais acaba por cegá-lo e fazê-lo fugir da sua tribo numa caminhada solitária para a morte no deserto profundo (algo que desejo aconteça ao Real Madrid – preferencialmente sem ele ao leme, entenda-se).
Luigi Del Neri
O Poço e o Pêndulo (Edgar Allan Poe)
Um homem vê-se amarrado numa tábua depois de ser julgado pela Inquisição Espanhola e enquanto está de barriga para cima a olhar para o tecto da sua cela, é exposto a um pêndulo em forma de foice com uma enorme lâmina que vai gradualmente baixando até chegar perto do homem, que percebe estar a ser torturado e eventualmente assassinado. O terror causado pela visualização da viagem lateral do pêndulo associada à incapacidade do homem se conseguir soltar leva a que o homem conceba a vida e a morte de uma forma diferente do que até aí tinha vindo a fazer.
Co Adriaanse
Storm of Steel (Ernst Jünger)
Uma história narrada na primeira pessoa pelo comandante das companhias de soldados alemães na Primeira Guerra Mundial, revelando a fibra e a agressividade ofensiva das tropas do Kaiser no calor da batalha nas trincheiras. Jünger, o líder das então recém-formadas “Stoßtruppführers” (tropas de choque), relata as histórias do seu batalhão em ondas de ataque constante, na tentativa persistente de ganhar terreno ao inimigo, infligindo o maior número de vítimas e destruição generalizada, muitas vezes com completa insensibilidade para com a própria vida, quebrando as linhas inimigas e fazendo do ataque a melhor defesa.
André Villas-Boas
Children of Dune (Frank Herbert)
No final da primeira série de três livros da obra de Frank Herbert surge Leto Atreides II, filho de Paul e neto de Leto, para conquistar definitivamente a galáxia através da guerra contra os infiéis e da assunção de um regime de devoção, quebrado por sua própria vontade numa altura em que poucos poderiam prever que tal pudesse acontecer. O povo, que o adorava quando surgiu no seu horizonte desolado pela queda do anterior líder, acaba por se virar contra ele aquando da sua morte e a imagem de Leto é banida das mentes da turba e é colocado no panteão reservado para os grandes traidores da Humanidade (a única incongruência é que Villas-Boas durou um ano no FC Porto, ao passo que Leto…quatro mil, no livro. Pouca coisa.).
Mais algumas ideias? Ajudem-me, oh letrados!
So no Porta 19 e que se consegue ler literatura da boa associada ao futebol! Ja agora deixo a minha contribuicao:
Sporting CP “Empire Adrift” de Paul Wilcken
Benfica “Escuta Ze Ninguem” de Wilhelm Reich
Continuacao de um optimo blogue!
E arranjar um treinador para “o estrangeiro” de Camus, o homem mata um mouro sem remorsos…
Num tópico diferente, o que achas do Vítor Pereira dizer coisas do tipo: “Se fosse hoje, inscrevía o Walter.”. Acho que o Vítor Pereira deve ter cuidado com as coisas que diz senao perde a confianca dos jogadores rapidamente. Ele de discurso, temos que ser honestos, nao é tao bom como o AVB. E isso infelizmente, tem efeito.
não creio que se referisse aos golos mas sim ao momento psicológico do jogador à altura da inscrição. em vez de termos um jogador que podia não estar em condições, foi feita a opção por incluir um outro avançado (extremo) em vez de um ponta-de-lança que poderia ou não render.
é verdade que Vitor não é André porque o discurso parece menos fluido e ganhador. mas lembrem-se de Fernando Santos ou de Carlos Alberto Silva…
Misturar Carlos Alberto Silva nesse pacote devia dar cadeia…
porquê? achas que ele era um bom orador, um homem com discurso de vitória? era um treinador sóbrio, de ideias fixas e convicções marcadas. mas nunca me soou aos ouvidos como Robson, Mourinho ou Villas-Boas. ou até Oliveira, se o quiseres incluir no grupo.
Aqui vai a minha sugestão:
André Villas Boas: Boris Vian “O Arranca-Corações”
Octávio Machado: Vladimir Nabokov “Convite para uma decapitação”
Jesualdo Ferreira: Krank Baum “O Feiticeiro de Oz”
Artur Jorge: John Le Carré “O Amante Ingénuo e Sentimental”
Bobby Robson: Miguel de Cervantes “D. Quixote”
José Mourinho: Tolstoi “O Demónio Branco” ou então Shakespeare “Otelo”.
gostei do Otelo para o Mourinho…mas quem seria o Iago? ;)
Não sei quem seria o Iago, mas lembrei-me apenas da ambição desmedida e a soberba do Otelo e comparei-a com a do Mourinho.
eu percebi, homem…por isso perguntei quem seria o “amigo” Iago ;)