Sou um adepto confesso da simetria. Incomodam-me tácticas em que vejo um ponta-de-lança a descair para que um segundo avançado ocupe o seu lugar saído de uma qualquer lateral, onde vai sem dúvida aparecer um lateral mais ofensivo do que devia a cruzar para que o médio volante surja ao primeiro poste e o avançado, o poacher, apareça ao segundo poste sem marcação e desfira o golpe letal que faz com o que o guarda-redes reclame com a defesa pela má marcação. Gosto de futebol bem estruturado e não tenho dúvida que caso me aparecesse a hipótese de ser treinador de futebol, iria rapidamente colocar a minha equipa a jogar num esquema que desse o privilégio quase completo a uma colocação no terreno de rapazes em posições que quando olhadas do ponto de vista do guarda-redes parecessem mantas feitas em tear, nunca retalhadas pelas inteligentes mãos de um artesão manual.
É nestes esquemas que jogadores como João Moutinho surgem como reis. Nestas simetrias trabalhadas, em que há jogadores para cada posição e em que raramente surge um génio para desfazer as estruturas que o adversário montou como artimanha pseudo-infalível para quebrar o raciocínio frio da minha formação. Moutinho, um homem que tento mimicar sempre que me junto com os meus amigos de sempre para a tradicional futebolada da semana, e alguém que gostaria que uma vez na minha vida algum deles olhasse para mim e dissesse: “Eh pá, oh gordo, tu cada vez estás mais Moutinho!”, seguido das tradicionais diatribes que os amigos tanto gostam de proferir uns para os outros. Perdoar-lhes-ia, só pela última palavra antes do calão.
Desde que vi Moutinho a arrancar na profissão que escolheu que vi talento. Vi uma capacidade inata para manter a bola durante o tempo que queria, escolhendo o passe certo na altura certa, sem inventar enormes desvarios de passes longos a procurar a movimentação de um avançado que raramente percebia o que o diminuto colega no meio-campo pretendia fazer. Moutinho joga devagar, com alma mas com cabeça, mantém a bola perto dos seus pés durante o tempo que é necessário para que nada fuja da estrutura que o treinador lhe manda manter, rodando aquela esfera pelos jogadores mais acertados e fugindo dos mais violentos, procurando sempre o passe mais simples para que o jogo flua com a intensidade que precisa na altura que é preciso. Mal aproveitado no Sporting, onde lhe pediram para ser 10 e 6 em épocas diferentes (e por vezes no mesmo jogo), nunca abdicou da inteligência com que brinda o público que assiste às suas jogadas, geométricas por definição e geniais na execução. É o Xavi português, e tivéssemos nós uma imprensa capaz de elevar o talento a níveis estratosféricos como a espanhola, que conseguiu por breves meses transformar um banalíssimo elemento como Arbeloa ou o Sergi (dependendo do jornal que lessem e da afiliação que propagassem) num talento ao nível de um Baresi ou de um Roberto Carlos, por certo teríamos o nosso João a jogar em campeonatos de nível bem acima do nosso. Como tal, e como o rapaz parece gostar da cidade, do ambiente e do futebol que o rodeia, vamos tê-lo cá mais uns tempos. E que gosto me vai dar, eu que gosto tanto daquele estilo, de um proto-Barcelona pacífico, calmo, tranquilo, de troca de bola olímpica e sem pressas, à espera do momento certo para romper uma defesa com um passe perfeito e deixar o trabalho duro, pressionante e incrivelmente difícil ao avançado que fica frente-a-frente ao guarda-redes pronto a marcar o golo da vitória…que gosto me vai dar ver o João ali no meio, com o número oito nas costas, a aplaudir o bom trabalho do colega, sabendo que foi ele que o criou. É uma honra, João, ver-te a jogar.
Agora tens ainda o Defour, Moutinho em ponto menor mas à semelhança.
Também eu sou um admirador confesso do Moutinho, não tenho dúvidas que ele contribuiu bastante para muito do sucesso que a equipa do Porto alcançou o ano passado.
Quando estava no Sporting já o admirava excepto, isso irritava-me profundamente, no exagerada simulação de faltas a qualquer toque do adversário. No Porto ele tornou-se um jogador mais maduro e correcto e esta matreirice já não acontece com a exagerada frequência dos tempos idos do Sporting.
O Defour tem um estilo similar ao Moutinho, e nesta época o que me tem dado mais prazer é ver este trio de ‘baixinhos’ no meio-campo do Porto (Moutinho, Defour e Belluschi).
Honra muitíssimo grande mesmo Jorge, ter este pequeno grande jogador a deambular no nosso meio-campo.
É um enorme prazer assistir ao Moutinho jogar!
De acordo. Especialmente no que ao imitá-lo quando jogo com amigos diz respeito. É que é mesmo isso que tento fazer, embora supere o próprio Moutinho em largos momentos do jogo. :)
também eu, carago! o Moutinho é um mito, não vale nada! ;)
É um jogador á Porto! Era aprecidora publicamente assumida das suas qualidades e achei uma tremenda injustiça nao ter sido convocado para o Mundial de Africa do Sul.
É um jogador para ser apreciado na sua plenitude ao vivo! Na TV nao se apercebe da verdadeira dimensao do seu futebol, Ver as movimentações sem bola ; a liderança no meio campo ; as recuperações de bola ; as desmarcações ; as contemporizações de jogo ; as mudanças de flanco com rapidez. Quem gosta de futebol total, tem de ver o Moutinho ao Vivo e focar-se nele durante o jogo, realmente vale a pena :)
às vezes fico a pensar , apesar de algumas equipes mesmo fracas fracas, e alguns campos mesmo patéticos ao cubo, se o nosso campeonato será assim tão fraco… – sem brincadeira: Se vamos falar em campeonatos melhores falámos de Inglaterra, Espanha, Itália … – falando de Inglaterra, afinal o que vale um Bolton, um Blackburn, um Swansea, um Fulham, um Sunderland, um Norwich, um Wigan, um Queens Park, um West Bromich ?… em todos os campeonatos há equipes para fazer número e fazer perder pontos… já para não falar no campeonato italiano onde há anos que não vejo que se jogue grande futebol por lá… Têm todos é mais adeptos, mais glamour, mais jornais (os que são, e os que não são tablóides), mais televisões (as boas e as más), e mais escândalos… e melhores salários… (e a final da taça de Inglaterra)…
E muito melhor public relations e marketing
Acho mesmo que se a nossa equipe entrasse num campeonato desses ficava na mesma a lutar pelo título; a diferença é que mesmo não ficando em primeiro iria à Champions todos os anos…
olha que não sei. muito provavelmente ficaríamos nos primeiros lugares, mas lutar pelo título contra equipas do nível do Man Utd, que pode descansar quatro ou cinco gajos e continuar a jogar a alto nível, não é fácil, para não dizer possível…
Ela faz um comentário desses e tu respondes-lhe assim, ó Jorge??
Leste na vertical??
=) Keep up the good work
não tinha mais nada a dizer, o comentário falava por si. para além disso fico lixado quando apanho gente a comentar que escreve melhor que eu, fdx ;)
abraço,
Jorge
Quando se lê um artigo destes só apetece dizer:gostava de ter sido eu a escrevê-lo ou como dizem os mais cultos:faço minhas as suas palavras.Saudações portistas.
muito obrigado, Manuel!
um abraço,
Jorge