Futres e Folhas – Portugal vs Dinamarca


(foto retirada do MaisFutebol)


Depois de um dia de chuva torrencial, um proto-buzinão na VCI que nem a isso chegou e uma bifana rápida perto da Estação de Campanhã, segui para o Dragão de metro. Com alguns dinamarqueses a enfrascar Super Bocks pelo caminho (plural, já que um deles acabou uma garrafa e sem quebrar o raciocínio sacou de outra direitinha para o bucho. ah, nórdico!), ia tenso. O jogo seria complicado e como temos o raro dom de sobre-complicar o que já está complicado, as coisas complicavam-se. Enfim, nada disso. Temos muito mais futebol que os simpáticos lourinhos e com um bocadinho mais de sorte tínhamos ganho por nove. Sim, nove. Vamos a notas rápidas:

FUTRES
(+) Fábio Coentrão. Cansa. Corre muito, empenha-se, luta, joga e faz jogar. Muito bom.

(+) João Moutinho. Fez na Selecção o que tem feito no FC Porto e até um bocadinho mais. Acho que não falhou um único passe e conseguiu segurar a equipa quando foi preciso, rodando a bola para os sítios certos e pautando o jogo pelo meio-campo quando Martins estava a estourar. Gostei, mais uma vez.

(+) Nani. Dois golos são sempre bons e se o primeiro é fortuito, o segundo é um tiraço indefensável. O resto do jogo não foi grande coisa mas aquele segundo golo acalmou a malta e chegou no timing perfeito.

(+) Carlos Martins. Até me custa dizer isto porque gosto tanto dele como de ouvir o Valdemar Duarte na TVI, mas na actualidade do futebol português não há melhor para a posição que ocupa. Luta muito e é inteligente a jogar, está cheio de moral e nota-se. Hoje, então, teve a inteligência de não abusar na agressividade, algo que lhe é pedido e que faz muito do seu perfil como jogador. Perante uma situação em que seria fácil acusá-lo de ser uma menos-valia na Selecção, safou-se muito bem. Imaginem se o rapaz fosse expulso por uma entrada mais rija…caía a imprensa em cima dele, Paulo Bento nunca mais o chamava e alegava que não era por não o poder ver à frente mas porque seria um risco para a equipa e perdia-se um bom jogador. Arghhhh, que custa dizer isto…

FOLHAS







(-) Ronaldo (1ª parte). Um capitão de equipa tem de fazer mais, tem de lutar mais, tem de jogar mais. Não chegam duas ou três arrancadas. Deixou Coentrão a lidar com dois dinamarqueses de cada vez e não fosse o caxineiro chegar para esses e mais alguns, e teria sido ainda mais assobiado. Na segunda parte melhorou ofensivamente mas ajudar atrás…isso é que era bom. Exige-se mais.



(-) Hugo Almeida. Eu sei que não há muitas mais alternativas para jogar ali no meio…mas o rapaz é fraco demais. Ele bem se esforça mas o talento não nasce de geração espontânea…

(-) O meio-campo dos MMMs. Correu bem, mas podia ter sido complicado. O meio-campo de Meireles, Moutinho e Martins ainda não sabe jogar junto e várias vezes vi Moutinho a descair para o mesmo lado onde estava a chegar Martins, ficando os dois a pensar qual deles tinha de voltar para trás. Não gosto de ver Meireles a trinco, é indeciso e falha muitos passes, e nem começo a falar da altura combinada dos três, que empilhados dão pelo ombro do Hugo Almeida. Técnica tem eles que chegue…mas não chega.


No final do jogo, depois de encontrar um amigo que já não via há que tempos e que é um dos comentadores-vedeta deste vosso espaço, saí satisfeito. Paulo Bento precisava desta vitória e os rapazes parece que gostaram de jogar. Ainda tremem um bocadinho mas pode ser que com o tempo as coisas assentem. Até lá, siga a rusga. Nem que erupta (erupcione? eruptide? erupcionalize? desisto…) outro vulcão lá nas Islândias, é preciso sair de lá com três pontos!!!

5 comentários

  1. É a primeira vez que comento, apesar de seguir o seu blog há bastante tempo, por isso gostava de começar por elogiar o seu trabalho. Não sou portista, mas não deixo de ver as suas análises da jornada porque gosto bastante da sua abordagem à mesma e porque o faz como um "bom jornalista", apesar de não esconder a sua "linha editorial" consegue ser justo e imparcial que chegue para me dar uma ideia clara do jogo. Como o fez agora acerca da selecção.

    Permita-me só discordar da sua análise ao Hugo Almeida, pode não ser (e não é, de facto) um primor, mas numa equipa que se encontra formatada e tem no seu ADN privilegiar os movimentos interiores dos alas para a finalização, isso retira protagonismo ao ponta de lança e realça as suas (in)capacidades. Acho que a crítica ao Hugo Almeida deve ser contextualizada através das características estruturais da equipa e não do ponto de vista individual.

    Cumprimentos

  2. Parece que o verbo associado a erupção é… nenhum. Não há. Pelo que consegui descobrir pela minha – curta, é certo – investigação no ciber espaço, o verbo correcto seria erromper, mas não existe. Esqueceram-se de o criar. É o que dá as línguas não se desenvolverem por decreto (ao contrário do que os políticos dos dias de hoje acreditam – mas isso é outra conversa).
    http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=15200

    Quanto ao Carlos Martins, é um mal menor. O Meireles a trinco não falhou nem mais nem menos passes que o normal, só que normalmente os trincos do 4-3-3 só fazem passes curtos e para o lado e ele tentou fazer algumas aberturas que não lhe correram bem. O CR7 acha que a selecção é a equipa dele. Só passa a bola se não tiver outra hipótese. Desde os meus tempo de infância a jogar com os amigos que não via ninguém tão fução como ele. E a defender era incrível, até na tv dava para ver. Por vezes ele até tinha a preocupação de perceber onde estava o lateral dinamarquês, mas colocar-se de modo a cortar a linha de passe é mentira. Claramente não é um jogador que dê o exemplo e portanto não devia ser capitão.

  3. @Anónimo: obrigado pelas palavras e garanto-lhe que não há-de ler aqui outra coisa que não seja saída da minha cabeça. tento ser o mais imparcial possível em todas as análises e creio que está aí um dos pontos fortes do blog. quanto à linha editorial…que remédio, afinal o blog é portista, certo? :)

    @Geraldes: sim, concordo. ainda assim acho que poderia render mais se jogasse um pouco acima no terreno. já o Ronaldo…foi essa a ideia com que fiquei ao vivo e só me custa que depois de vários anos e diversos treinadores, continuem a escolher o rapaz para capitão de equipa. não é exemplo para ninguém e acaba por ser apenas a enfatização de uma cultura de espectáculo que se está a impregnar neste país. é famoso? então merece mais que os outros…

  4. Bom dia,

    Quanto à "linha editorial", parece-me bem que assim seja. Afinal, quando venho ler as suas crónicas, já sei que é um portista que as escreve, é honesto e transparente nas suas intenções mas não deixa de ser independente nas suas observações. Por isso, e apesar de benfiquista, quando quero ver como correu o jogo do FCP que não vi, considero as suas crónicas as melhores para tal.

    Sabe tão bem como eu, que ler alguns blogs, ou mesmo jornais desportivos, a tão realçada "independência" é tão só uma capa que oculta a verdadeira intenção dos autores. E se há coisa que não suporto são análises enviesadas. Por exemplo, ninguém duvidará que a linha editorial do jornal "a bola" é marcadamente benfiquista, apesar de não o ser explicitamente, serão as suas crónicas independentes? Duvido que sejam.

    Estabelecendo um paralelismo, em países com maior tradição democrática, não choca ninguém que alguns mídia assumam posições editoriais francas. Estou-me a recordar dos principais jornais americanos e de se assumirem claramente como democratas ou republicanos. Pelo menos são transparentes, e permitem aos seus leitores acompanharem o que neles surge com a certeza de que ninguém os anda a enganar. Um pouco como este blog, posso ser benfiquista, mas porque não construir a minha opinião vendo como um portista olha para a sua equipa e comparando-a com a minha própria perspectiva? No fundo somos todos, adeptos de futebol, não é?

    Saudações,

    Daniel

  5. não imaginas a satisfação que me dás ao ler as tuas palavras. é de gajos como tu que precisamos para melhorar o nosso futebol, pessoas que sabem ver a diferença entre torcer pela equipa em vez de verem filmes e alimentarem polémicas estéreis. como exemplo fica a nomeação de Xistra para o jogo do FCP em Guimarães. se analisares o que a maioria dos blogs (portistas e benfiquistas) disseram quando se soube que era ele o árbitro da partida, cada um sacava da carta do "este gajo só nos prejudica"…enfim, o pessoal não consegue muitas vezes tirar os óculos e ser frio nas críticas e é aí que creio que temos de apostar. e quando dizes que muitos jornalistas servem interesses disfarçados da sua opinião "imparcial", concordo plenamente, tanto para um lado como para o outro. parece que hoje em dia a capa da imparcialidade está cada vez mais transparente…realmente, qual NY Times ou Washington Post, era de bom tom decidirem-se e assumirem de vez o lado que defendem…

    já agora fica o repto em jeito de publicidade ostensiva: que tal evangelizar os seus amigos (como eu tento fazer aos meus) para verem o jogo mais friamente e sem olhar tanto a clubites? só temos a ganhar com isso! :)

    um abraço!
    Jorge

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