(foto retirada de fcporto.pt)
A noite estava fria e a chuva, ligeira mas constante, caía sobre as nossas cabeças como um prenúncio de soturnidade que não assentava bem no espírito Natalício que acabava de expirar. Eis senão quando, do meio de nada, numa altura em que as almas já repousavam em descanso depois de um fim-de-semana retemperador, ainda que frio, aparece um jogo que, nada fazendo prever, acabou por se transformar num quasi-épico para terminar em grande a primeira volta deste nosso campeonato da bola. Foi, como tem sido infelizmente habitual este ano, um jogo de parvoíces. Siga para notas:
BAÍAS
(+) Varela, mais uma vez. Num deserto de ideias e capacidade criativa para um ataque minimamente condizente com os nossos pergaminhos, temos em Varela o único fogacho ciente do papel que ocupa e da vontade que tem de mostrar serviço e de produzir qualquer coisa mais que uma corrida pela linha e um cruzamento para a bancada. Este ano tem sido um dos poucos elementos que consegue ostentar a camisola que tem ao corpo com algum orgulho pelo trabalho realizado. Merece.
(+) Álvaro Pereira. Depois de várias experiências falhadas e uma semi-acertada (tendo em conta o pouco tempo que cá passou, Cissokho foi melhor que todos os outros juntos), o uruguaio está de pedra, cal e cimento no lugar. Tal como Varela não é genial mas acaba por ser um elemento sempre muito interventivo nas manobras ofensivas da equipa, apoiando o flanco e regressando para a defesa a alta velocidade. É jeitoso e pode vir a ser um excelente investimento, basta aprender a centrar uma bola em condições.
(+) Falcao. Não nos iludamos, o colombiano não é Lisandro nem Jardel. É um meio termo, com o oportunismo do brasileiro e a luta do argentino, pecando apenas pela lentidão que não consegue sacudir, mas que pode ainda ser trabalhada para pior. Ou seja, para ser menos lento. Domina bem a bola no meio dos centrais e abre bem para os extremos/interiores que o acaompanham no ataque. Marcou dois golos, já vai em 10 no campeonato e é uma das figuras da equipa, pelo menos até vir outro ponta-de-lança ou até Orlando Sá mostrar o porquê da sua contratação ao Braga, já que não vejo Farías a tirar-lhe o lugar.
(+) Helton. Que o rapaz era capaz do melhor e do pior, todos os portistas o sabiam. Agora que conseguia ir das profundezas de um inferno dantesco até às portas celestiais no decorrer de um único jogo, já ninguém esperava. Defender um penalty é sempre bom. Aos 92 minutos, ainda melhor. Quando o resultado está 2-2, upa upa. E depois de sofrer um frango enorme (ver Baroni abaixo), conseguir recuperar mentalmente de forma a ter a presença de espírito para marcar a diferença, é obra. Safou-se de boa.
BARONIS
(-) Há uma intensa previsibilidade no jogo criativo da nossa equipa que assusta os adeptos. Todo o estádio já viu as subidas de Álvaro sem ninguém pela frente, atrasando para Rodríguez que tenta fintar um ou dois, deixando para Meireles quando invariavelmente não passa pelos oponentes, ao passo que Meireles vai rodar quase sempre para Fernando ou Bruno Alves, que passa para o lateral direito…e recomeça o ciclo no flanco contrário, com os mesmos trejeitos e infelizes decisões, só mudando os nomes nas camisolas. É tudo muito “pastoso”, lento, arrastado e previsível. As equipas que aparecem para jogar no Dragão já conhecem o estilo há que tempos e já sabem a melhor maneira para o contrariar. Resta-nos sempre um ou dois ressaltos na área e uma ou outra arrancada do Varela. E pouco mais temos.
(-) Outra coisa que tenho reparado acaba por ser a contínua estagnação (peço desculpa pela redundância semântica) da qualidade de jogo da equipa. Semana após semana vemos os mesmos jogadores tristes, sem grande motivação, com algum empenho mas pouca concentração, com medo do adversário, seja ele quem fôr, e uma gritante incapacidade de controlar um jogo que não pode fugir do seu alcance. Ontem veio ao Dragão uma equipa que está e estará no máximo a meio da tabela no final do campeonato. Marcou dois golos porque fez dois remates (pronto, um, o primeiro não conta) e ainda teve mais algumas semi-oportunidades. Cada um dos golos surge depois de nos colocarmos em vantagem e não a conseguirmos segurar. Chegou ao ponto em que qualquer equipa pode dar cá um salto e sacar uns pontinhos, seja ela o Benfica ou o Olhanense. Estamos a transmitir um espírito de equipa pequena.
(-) Fernando esteve mais uma vez mal. É frustrante olhar para o campo e ver que um dos melhores jogadores da equipa tem por vezes algumas atitudes infantis que o colocam no lote dos demais quando claramente tem qualidade para estar no topo. A forma como nos últimos jogos tem vindo a reclamar de TODAS as bolas em que o árbitro lhe aponta uma falta é sintomática da instabilidade competitiva que a equipa atravessa desde Agosto. Terá de crescer ainda um pouco mais.
(-) Helton. “É sempre a mesma merda, põe as putas das mãos em frente à bola e espera que ela pare!“, dizia um colega da Porta19 ontem após o primeiro golo dos visitantes. Com as devidas desculpas pelo vernáculo algo exagerado, mas a frase faz todo o sentido. Helton que este ano até estava bem mais estável que em tempos idos, acaba sempre por trazer ao de cima o excesso de confiança com que entra em campo, tal como aconteceu, apesar de menos exuberantemente, em Braga. Safou-se de boa, como disse acima, ao defender o penalty, mas a imagem do rapaz vestido de laranja, com as mãos perpendiculares ao relvado e a bola a passar-lhe por cima…fica na memória.
Começa a s
er entediante escrever quase sempre a mesma coisa, mas cá vai: foi pouco, mas chegou. No final de uma primeira volta bem abaixo do que os adeptos desejam, fica a sensação que não há muito mais a fazer para melhorar as exibições que temos visto. 4 pontos de diferença são perfeitamente recuperáveis e podemos chegar ao final da Liga em primeiro lugar! Mas se me perguntarem se estamos a fazer o suficiente para isso acontecer…
er entediante escrever quase sempre a mesma coisa, mas cá vai: foi pouco, mas chegou. No final de uma primeira volta bem abaixo do que os adeptos desejam, fica a sensação que não há muito mais a fazer para melhorar as exibições que temos visto. 4 pontos de diferença são perfeitamente recuperáveis e podemos chegar ao final da Liga em primeiro lugar! Mas se me perguntarem se estamos a fazer o suficiente para isso acontecer…
Antes de mais, caro amigo, quero muito cordialmente discordar da alegada intensa previsibilidade no jogo criativo. Tb fui ver o jogo ao frio e constatei, após a 1ª substituição, que a imprevisibilidade foi tanta que o Helton estava a pedir explicações ao Rolando, e pouco depois ao próprio treinador. Quantas vezes se vê um guarda redes a receber instruções do treinador numa paragem do jogo? Depois dessa substituição, fiquei com dificuldades a tentar perceber se era um 3-5-2 (foi o que mais pareceu, já que não havia um defesa direito claro e vi várias vezes uma linha Rolando-BA-Álvaro) ou um 4-4-2. Pareceu-me contudo, uma espécie de sistema rotativo, em que o lateral direito era o que estava mais perto! E depois, quando todos pensavam que o professor iria voltar a introduzir a previsibilidade no jogo, colocando o invariável Speedy González a lateral direito, voltou a surpreender, só com a entrada do Tomás Costa se voltou a perceber quem jogava ali (com aquela mudança de flanco aos 89' merecia mesmo que lhe rapassem o cabelo outra vez). Daqui resulta uma piada d'époque: Será que este professor também está sob a Alçada das avaliações da Isabel?
Uma nota também para o Miguel Lopes, muito confiante e achei que havia quem mais merecesse a saída. Na minha opinião, merecia um Baia assim entre um Suf+ ou um Satisfaz, quanto mais não seja pelo empenho e pelo melhor entendimento que a ala direita teve em comparação com a esquerda.
No entanto, a minha principal nota de hoje vai para a descoberta do primeiro discípulo de Jesus, e no caso, bem improvável: Lito Vidigal! Já tínhamos visto várias vezes esta época (Guimarães, Naval, etc): livre que não existe, bola para a área, golo de cabeça, neste caso com evolução da estratégia, dado que a cereja no topo do bolo foi ter sido obtido em fora-de-jogo! Com este requinte ainda não tinha sido utilizado pelo Jesus, mas quando a circunstância o exigir, estou certo que o milagre se irá operar. É que a Jesus, realmente, nada é impossível! Senão, vejamos: o melhor que tinham para reclamar este ano da arbitragem era um penalti não assinalado ao Cebola na sequência de um canto que não era. E, como que a demonstrar que a persistência recompensa, na sequência de outro canto erradamente atribuído conseguiram tirar mais um Conejito da cartola, num campo que se dizia o mais difícil da temporada. Assim, realmente, parece fácil, e a superioridade deste Jesus poderá mesmo levar a pensar-se que será dispensável qualquer ajuda… Divina. O Pilatos desta história (Vítor das Pereiras) já foi lavando as mãos…
Se não fosses de outro clube, convidava-te para escreveres aqui no bitcho. Tens a sagacidade de um Llosa e o fluxo literário de um Márquez. E o remate de um Izemáilóbe.
Obrigado pelos comentários, rapaz, folgo muito em ver que gostas de dar cá um salto!