Há alturas em que fico a olhar para algumas notícias que vejo e começo a ter uma pequena visão da “big picture” (e não me refiro ao genial foto-blog do Boston Globe) e da forma como as mentalidades se foram formando. Na era da publicidade ainda mais agressiva do que a que vemos retratada no Mad Men, em termos de marcas há uma espécie de Lavoisierismo corrente e constante que, à falta de outros termos, já enoja. Falo, para quem ainda não percebeu no meio do meu discurso pseudo-intelectual, nos acrónimos e o seu exageradíssimo uso no futebol.
Os acrónimos já no mundo da moda se fazem notar desde há uns anos, quando a Mango passou a ser MNG ou a Springfield se transformou em SPF, entre outras. Em todo o mundo há talvez demasiados acrónimos (ou siglas, se preferirem) que apesar de simplificarem as coisas acabam por desumanizar as entidades e transformá-las em fugazes ícones de pop-culture que, francamente, só entusiasmam as pitas guinchadoras e os jornalistas da Cofina.
Em Portugal, talvez tenha começado com Ronaldo. Quando estava no Manchester United era vulgar referirem-se a ele como CR7, passou para o Real Madrid e é o CR9. A discussão acerca das marcas e do seu registo empolga gente como o Nuno Luz, arauto-mor de tudo o que é fútil e desinteressante acerca do desporto-rei, e apenas se traduz na propagação do marketing e do merchandising que enriquece os bolsos desses meninos.
Qual é o problema que tenho com isto, perguntarão? É como em todas as coisas, começa por ser giro, passa a ser banal e acaba por ser fastidioso.
No FC Porto começou com Rodríguez. A absurda nomenclatura usada para Cristián Rodríguez como CR10 é uma cópia foleira do que é usado com Ronaldo e em nada abona em favor do nosso Cebola. Agora usa-se também o RF9 para Falcao, como se fosse um nome de código de um Cessna, e cheira-me que não vai parar por aqui. Um dia destes ainda vamos ver uma ficha de jogo deste género:
FC Porto: H1; JF13, BA2, R14, AP15; F25, RM3, FB7; CR10, H12, RF9
SL Benfica: Q12; MP14, L4, DL23, S3; JG6, RA5, DM20, PA10, OC7, JS30.
Ora temos aqui o que poderiam perfeitamente ser caças-bombardeiros americanos, vitaminas para os ossos, modelos de aviões telecomandados, compostos orgânicos, portáteis da IBM ou sectores do Estádio do Dragão. Ridículo.
O marketing domina o nosso mundo, mas é preciso saber dizer basta. O Record vende a grande parte dos jornais pelo tom ridículo e cor-de-rosa que coloca em grande parte das notícias e é exactamente isso que deve ser impedido. São estes senhores que colocam as vedetas no topo, os enchem de mimos e de nomes queridos, só para serem também os primeiros detractores quando as coisas não correm bem e os carpideiros das mágoas extra-futebol que aparecem constantemente na imprensa.
Chamem-me purista mas abomino este tratamento mediatizado dos jogadores. Se chamassem A6 ao André ele pensava de certeza que estavam a falar de uma auto-estrada e entrava de carrinho sobre o primeiro gajo que lhe dissesse uma coisa dessas. Aqui a P19 continua a luta. Porra.
Saudações!
Estão abertas as inscrições para a IV Edição da Liga Zé do Boné, uma liga privada da UEFA Fantasy League.
Dêem uma vista de olhos nas instruções no blog Zé do Boné, inscrevam-se a habilitem-se aos, não diria magníficos mas, sim, simpáticos prémios!
Zé do Boné – Um blog sobre o FCPorto